Somos, indiscutivelmente, um país que adora novelas. Uma rapariga com voz ‘sei lá’, aparece num vídeo a falar dos seus desejos para 2013 e diz que adorava comprar uma mala Chanel e cai o Carmo e a Trindade no mundo da net.
Indecente, inacreditável, insensível, é o mínimo que dizem da rapariga que ganha parte da sua vida a escrever sobre moda. Como se fosse algum crime desejar ter uma mala – será por essa razão que pessoas que passam mal vão ainda piorar? O tema apimentou a vida de quem faz da net uma forma de estar e de viver. Acresce que muitas dessas pessoas adoram contribuir para o argumento das novelas que vão sendo criadas diariamente.
Os likes são o trunfo supremo. Por outro lado, quando não gostam de algo, toca a desancar sem dó nem piedade. Muitas vezes de forma anónima, até porque não têm coragem de o assumir. É um pouco a história da rua: uma pessoa sozinha não vai protestar contra duas ou três, mas se do seu lado estiverem 200 de certeza que vai crescer no seu direito à indignação. Os pobres de espírito precisam de ajuda para mostrarem o que realmente lhes vai na alma.
Mas se a rapariga da mala vai cair no esquecimento rapidamente, o mesmo não se passa com o Zico, o cão que matou uma criança de 18 meses. Quando se soube que o destino do cão seria o abate, logo na net apareceram 50 mil pessoas a protestar contra a decisão. O número não parou de aumentar e calcula-se que deva atingir os 100 mil antes desta revista chegar às bancas. Do lado contrário, uma pequena trupe defendia que o cão devia mesmo ser abatido. Estamos a falar de uma proporção de 70 mil para 400 pessoas, à hora a que escrevo esta crónica.
A novela é assim alimentada pelos que são contra o abate do animal e por uma tímida reacção daqueles que pensam de maneira diferente. Acredito que muitos dos ‘argumentistas’ apenas se preocupam com quem vai acabar por ganhar. As verdadeiras razões, o que está em causa, o que se deve fazer no futuro, pouco importa. Afinal, a net não é bem para pensar, é mais para reagir e o fim da novela tem de ser determinado pela quantidade de likes. Amanhã é preciso criar outra história.
Quanto aos cães perigosos, pergunto se algum dos defensores do Zico gostaria de ser confrontado com um animal desses sem açaime? E se os cães que matam pessoas não devem ser abatidos, então os seus donos devem ser culpados de homicídio.
Retirada daqui