Tornou-se moda menorizar a obra de Paul Auster, apoucando-a com todo o género de acusações, grande parte das quais infundadas. É certo que o romancista nova-iorquino se pôs a jeito: não só por causa da (descabelada) realização de A vida interior de Martin Frost como da excessiva carga política presente em alguns dos mais recentes livros, a que recorreu por certo para melhor ocultar o défice criativo da ocasião.
Não deixa de ser também verdade que, se quisermos eleger os livros essenciais de Auster, teremos que recuar seguramente mais de uma década, casos de Palácio da Lua ou A trilogia de Nova Iorque. E, no entanto, mesmo arredado da categoria vintage há uns aninhos largos, um livro mediano de Paul Auster – como Homem na escuridão ou Viagens no Scriptorium – é infinitamente mais interessante do que a esmagadora maioria do que se vai publicando, já que o autor de A música do acaso transforma cada livro num puzzle no qual a literatura e a vida se fundem em permanência.
Essa inflexão narrativa conduz o leitor à familiar Nova Iorque, a cidade onde se refugia. Instalado no bairro de Sunset Park, Heller trava conhecimento com outros três jovens, cada qual, à sua maneira, uma vítima da crise que abalou os alicerces da sociedade.
Se, formalmente, o livro é irrepreensível (os diferentes planos que se sucedem são narrados com a mestria habitual), nota-se a ausência de uma dose de humanismo que dê sentido a todas as vidas, precisamente uma virtude que tornou os melhores livros de Paul Auster tão marcantes.
(Sérgio Almeida)
TÍTULO: Sunset ParkAUTOR: Paul AusterEDITOR: ASAPREÇO: 16 euros
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