quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

PASSOS, CAVACO E A DEMAGOGIA DAS PENSÕES E REFORMAS

Passos Coelho esteve mal ao dividir o país, lançando novos contra velhos; mas Cavaco está a pagar o facto de ter optado por receber uma pensão, em vez do salário de Presidente da República. Em política, tudo tem consequências.


Vamos por parte. É verdade o que diz Passos Coelho. Muitos pensionistas nunca descontaram suficientemente para agora receberem o que recebem. Esquece-se de dizer que as regras eram assim, que eles não fizeram qualquer mal e que, muitos deles foram, pura e simplesmente afastados dos lugares em que estavam, na Administração e empresas públicas, por pessoas do PSD e do PS que pretendiam dar lugar aos seus boys.

Por outro lado, quando eu comecei a trabalhar, tinha a expectativa de me reformar tendo em conta os cinco melhores dos últimos 10 anos de trabalho. Irrealista? Talvez! Mas foi nesse pressuposto que eu (como todos os da minha idade) comecei uma carreira de mais de 30 anos de descontos. As coisas alteraram-se e não há dinheiro. Certo. Mas um primeiro-ministro que não quisesse ser demagogo poderia pedir um esforço contributivo aos que mais recebem, o que é substancialmente diferente de tratá-los como se estivessem a roubar o futuro aos jovens. O seu discurso, feito para uma plateia da JSD, é indesculpável!

Acresce que basta fazer este exercício: se este nosso contrato de reforma, em vez de feito com o Estado fosse feito com uma seguradora privada que entretanto mudasse as regras qualquer processo em tribunal seria ganho pelos beneficiários. É mais uma razão para Passos, em vez de atacar, pedir desculpa pelo que está a fazer aos pensionistas.

Também Cavaco está amarrado a uma decisão mesquinha que aqui critiquei diversas vezes. Ao ter optado por uma pensão, em vez de receber o salário de PR, mostrou ao país a iniquidade de certas reformas. O Estado, ao pagar pensões que são superiores ao ordenado do Presidente da República, dá azo a que toda uma geração de jovens - que já nem espera receber pensão nenhuma - ache, e com razão, escandaloso o nível de retribuições de certos reformados.

Há muito que as pensões pagas pelo Estado deviam ter um limite. Mas não têm. E é por isso que o Tribunal Constitucional com muita probabilidade chumbará o Orçamento do Estado neste ponto.

Agora, como se vê pelo exemplo, ninguém tem razão.

Retirada daqui