Sempre que o presente ostenta tons mais carregados, há uma tendência natural para “uma excessiva dependência das salvações externas”. Quem o diz é Joaquim Fernandes, investigador e professor universitário que acaba de publicar História prodigiosa de Portugal.
“O desnorte colectivo poderá instigar um ressurgimento de mitos, em particular de fórmulas sebastianistas. Haverá sempre um Salvador à espreita nos nevoeiros da nossa abdicação”, afirma.
Das figuras lendárias aos super-heróis, a História portuguesa sempre foi pródiga na criação de figuras excecionais. Apesar da riqueza desse imaginário, em que é possível detetar influências germânicas, orientais ou celtas, o autor de O cavaleiro da Ilha do Corvo é da opinião que essas crenças equivalem, com frequência, “a demissões nas mãos de 'deuses', maiores ou menores, ou em alternativa em demónios bem terrenos ou de infernos bem atuais, como os da troika...”
De todos os mitos presentes no nosso imaginário coletivo, não restam dúvidas de que o de D. Sebastião é o mais constante e influente. O professor da Universidade Fernando Pessoa reconhece essa importância, embora lembre que a génese do mito é hispânica, além de replicar a tradição anglosaxónica do Rei Artur. “É este tópico universal da espera - e da saudade -, que nos tem feito também um povo de expectativa que os tempos críticos de hoje ensaiam desafiar”, reforça.
O primeiro volume da História prodigiosa de Portugal saiu há poucas semanas, mas Joaquim Fernandes já se encontra embrenhado no seguinte, dedicado às Magias & mistérios da História entre o século XVIII e o presente. Até ao final do ano deverá ser publicado o livro Moradas Celestes, o essencial da tese de doutoramento do investigador sobre o Imaginário Extraterrestre na Cultura Portuguesa.
(Sérgio Almeida)
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