sábado, 6 de outubro de 2012

AFINAL ATÉ SOMOS RICOS


Há um ponto que fará toda a diferença no aumento de impostos anunciado por Vítor Gaspar: embora os rendimentos mais baixos sejam protegidos - uma boa decisão -, os rendimentos médios vão ser penalizados como nunca

Haverá quem suba de escalão sem perceber porquê e, por causa disso, veja evaporar-se mais uma fatia de dinheiro. 

Uns terão mais azar do que outros, claro, mas não é apenas isso que está em jogo. Para efeitos fiscais, uma parte da classe média passará a suportar uma fatura muito mais pesada numa altura em já lhe sobra pouco espaço para respirar.

Na perspetiva do Governo as classes média e média-alta passam a pagar impostos de ricos. São eles os novos ricos de Portugal. Para efeitos fiscais são suecos. Para efeitos práticos... bom, isso é irrelevante. Nunca na nossa história recente uma declaração de IRS tinha conseguido tamanha engenharia social em benefício do Estado. 

Mas há mais. O fim das deduções na saúde, na educação e para quem tem casa própria dará mais uma talhada nos orçamentos. Acabou-se o tempo das devoluções: o dinheiro vai para o Estado e já não volta. Depois há ainda o aumento do IMI, que implicará uma pressão sem precedentes sobre as famílias. Junte-se a isto os impostos indiretos, já nas nuvens, além dos que vão subir, como os impostos sobre o pecado - tabaco e luxos -, e ainda o custo dos combustíveis e chegamos a um quadro perfeito. É verdade, falta somar a sobretaxa sobre mais de meio subsídio de Natal. E se tudo correr mal... enfim, já sabe.

Não se trata por isso de ajustar mais o consumo. As pessoas terão de mudar de vida. A algumas resta subsistir. Se em cima disto algumas empresas decidirem propor cortes salariais de 10%, 20%, muita gente perderá três, quatro salários em pouco mais de um ano. Multipliquemos isto por dois (duas pessoas) e veja-se o resultado surreal. Será possível aguentar? As dívidas, infelizmente, não se vão embora. Como pagá-las é a pergunta que milhares de pessoas com emprego se vão confrontar pela primeira vez na vida. Estudaram, trabalharam, compraram casa e carro - uns loucos estes portugueses, não é? - e agora isto. 

O sufoco.

É verdade que a progressividade dos impostos aumenta em 2013 - paga mais quem tem mais, o que é justo. Mas as desigualdades não vão ser reduzidas pela subida do nível de vida dos mais pobres, mas porque a classe média ficará mais próxima da base da pirâmide salarial. Há qualquer coisa de sinistro num país assim. Daqui para a frente chamar a esta gente classe média é uma mentira. Os novos ricos (fiscais) serão, em muitos casos, os novos pobres (reais). Diz Gaspar que o futuro de Portugal passa por aqui. Não sei de que país estará ele a falar. Em certo sentido agora somos todos funcionários públicos: trabalhamos para o Estado. Mas sorria, sorria - os mercados estão a olhar para si. Vá, não dê mau aspeto.

André Macedo, aqui