
As cerimónias do 5 de Outubro tiveram aspetos insólitos.
Quando a bandeira
republicana foi hasteada, verificou-se que estava invertida, o que sinaliza que
"o local está dominado pelo inimigo e é o envio de um pedido de socorro".
Depois, seguiu-se um discurso presidencial pouco inspirado e nada inspirador e
os já habituais atos de protesto, que fazem as delícias da Comunicação Social.
Dadas as circunstâncias, face à crise profunda que estamos a viver, num momento em que o desânimo campeia e em que já não se acredita em nada e muito menos nas instituições, seria de esperar que o chefe de Estado fizesse um discurso diferente. Não se esperaria que comentasse a crise política que parece afetar a coligação, ou que fizesse uma das suas avaliações, feitas de meias palavras, sobre as medidas anunciadas pelo Governo. Mas seria seguramente expectável que tivesse uma intervenção política mais profunda. A descrição que fez, repetidamente, sobre as suas funções constitucionais, é um tema gasto. Aquilo que se ouviu do presidente foram palavras, também elas, gastas sobre os jovens e confusões entre a emigração de hoje e a do passado.
Dadas as circunstâncias, face à crise profunda que estamos a viver, num momento em que o desânimo campeia e em que já não se acredita em nada e muito menos nas instituições, seria de esperar que o chefe de Estado fizesse um discurso diferente. Não se esperaria que comentasse a crise política que parece afetar a coligação, ou que fizesse uma das suas avaliações, feitas de meias palavras, sobre as medidas anunciadas pelo Governo. Mas seria seguramente expectável que tivesse uma intervenção política mais profunda. A descrição que fez, repetidamente, sobre as suas funções constitucionais, é um tema gasto. Aquilo que se ouviu do presidente foram palavras, também elas, gastas sobre os jovens e confusões entre a emigração de hoje e a do passado.
Não lhe ouvimos dizer que Portugal tem de utilizar o seu crédito, na Europa,
para defender, com outros estados membros, uma alternativa. Não lhe ouvimos
lembrar o país que o pagamento das suas dívidas e a reestruturação da sua
economia não têm de ter um caráter punitivo. Não o vimos dirigir-se à classe
média garantindo-lhe que há um futuro para além da troika. Não ouvimos concluir
o seu discurso sobre a equidade, em que suscita dúvidas em explicar as suas
convicções. Não lhe ouvimos reconhecer que somos, neste momento, um país
dependente. Tentou, é certo, explicar aos portugueses que a austeridade é um
caminho, mas não é um destino. Ainda assim, não lhe ouvimos dizer aos
portugueses, que não podem trocar a paz social pela barafunda, por muito
zangados que estejam. Não ouvimos uma única referência à "caça aos políticos",
que é o princípio do fim da democracia. Não lhe ouvimos dizer que o país não
pode iludir-se com os cantos das tágides que inspiram essa caça, e prometem uma
salvação impossível. Não lhe ouvimos um único elogio aos muitos portugueses que,
neste tempo difícil, dedicam parte do seu tempo e dos seus parcos haveres a
auxiliar aqueles que mais precisam. Não lhe ouvimos, enfim, as palavras que
foram ditas por António Costa, sobre a nossa história de oito séculos, sobre a
necessidade imperiosa de não sermos submissos.
Como já se esperava, ouviram-se os protestos daqueles que lamentam que este
dia seja, pela última vez, feriado. É a folga, e não o seu significado, que os
preocupa. Pois podem ficar descansados porque o 5 de Outubro será um sábado em
2013 e um domingo em 2014, pelo que a medida é inócua, ficando por saber se esta
república invertida ainda terá direito a celebração no ano longínquo de 2015.
Não sei se esta república ainda tem emenda. Não sei, sequer, se haverá quem
acredite que existe solução para um problema que já não é, apenas, económico ou
financeiro, mas de fundo, significando o descrédito dos órgãos e das
instituições, a perda de confiança nos governantes e na classe política, a
desestruturação e a desagregação do próprio Estado.
Se a monarquia constitucional não resistiu ao ultimato inglês, tenho dúvidas
de que a república possa sobreviver ao ultimato alemão. Há indícios de que os
portugueses já não acreditam nas suas instituições democráticas, um sinal de
profundo dissenso que é transversal a toda a sociedade. Este ultimato pode
determinar, por isso, o fim do regime. Principalmente se não houver sentido de
Estado por parte da classe política, se não houver capacidade de regeneração, se
não houver respeito por princípios éticos fundamentais, se não houver quem apele
e incentive os portugueses à coesão nacional que é um dos poucos ativos que nos
restam, se não houver quem tenha a coragem suficiente para explicar a quem nos
tutela que desta forma, e mesmo fazendo tudo aquilo que nos exigem, não
poderemos cumprir com os nossos compromissos para com eles.
Retirada daqui