Apaixonado por livros, Zoran Zivkovic não se limita a lê-los e a escrevê-los: transforma-os nos verdadeiros protagonistas das suas obras.
Foi o que aconteceu com o seu primeiro livro publicado em Portugal – uma colectânea de contos intitulada Biblioteca, cujo principal fio condutor é o lado negro da literatura –, e é o que sucede também com o mais recente livro de sua autoria.
Tal como o antecessor, O último livro envolve paradoxos, enigmas e aparentes maldições, mas o género adoptado diverge de forma notória.
Como a autópsia não é conclusiva, o mistério não tarda a adensar-se, sobretudo a partir do momento em que novas mortes, em circunstâncias similares, ocorrem no mesmo espaço.
As óbvias reminiscências com O nome da rosa não atrapalharam por aí além o escritor sérvio, que construiu uma narrativa ritmada, embora também bastas vezes desequilibrada, na qual não falta o arremedo de um romance entre o detective, licenciado em Literatura, e a dona da Papyrus, nem sequer a criação de uma seita com laivos apocalípticos que, no entanto, carece de verosimilhança aos olhos dos leitores.
A investigação levada a cabo por Lukic revela-se mais árdua do que o policial suporia, porquanto os clientes habituais da livraria revelam, na sua maioria, hábitos, no mínimo, tão peculiares que o rol de suspeitos não pára de aumentar.
Para lançar ainda mais confusão, entra em acção a Agência de Segurança Nacional, que vai esbarrar na malha de contradições que rodeiam a investigação.
Apesar dos contornos policiais da trama, Zoran Zivkovic acrescentou ainda à história várias características da literatura fantástica que tanto aprecia, algo que se torna particularmente visível no surpreendente final do livro, imaginativo e intrigante q.b.
Sem ser uma obra prima, O último livro não deixa de revelar-se uma obra interessante nascida da evidente devoção que o autor nutre pela literatura.
(Sérgio Almeida)
TÍTULO: O último livro
AUTOR: Zoran Zivkovic
EDITOR: Cavalo de Ferro
PREÇO: 15.75 euros
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