
"As coisas práticas são fantásticas, mas devem corresponder a
uma visão, a uma ambição".
A frase é de Augusto Mateus, tão bom economista
quanto comunicador. O ex-ministro usou-a há dias, durante a apresentação de uma
parte da estratégia que o Minho pretende desenhar - e pôr em prática - para
aproveitar o próximo bolo de fundos comunitários.
O passado recente mostra que não. Os dados do presente mostram que não.
A lógica do minifúndio institucional, do olhar para a árvore em vez de fitar
a floresta, manteve-se, tristemente, como fio condutor do uso dos fundos
comunitários. As autarquias preferiram a rotunda e a piscina, de preferência
grandes e vistosas. Claro: quando a economia começou a derrapar e o crédito a
faltar, os problemas começaram a saltar como pipocas no micro-ondas.
Sem liquidez e com endividamento galopante, a taxa de execução dos fundos
comunitários começou a baixar drasticamente. Resultado: hoje, há mais de mil
milhões de euros de verbas comunitárias para gastar nos próximos três anos. Vale
o mesmo dizer: os municípios terão de duplicar o ritmo da execução para absorver
a totalidade dos fundos que lhes estão destinados. Ou ficam simplesmente sem
eles! Como o farão, se uma boa maioria não consegue já cumprir o serviço da
dívida, ou sequer pagar as contas a tempo e horas? Eis a pergunta que vale um
milhão de euros.
A culpa é toda dos municípios? Não, não é. Os autarcas podem ter muitos
defeitos, podem permitir que a vaidade da obra fácil lhes encurte as vistas, mas
não são tolos. Quer dizer: se avançaram com obras, recorrendo a empréstimos
bancários para garantir o seu arranque, foi porque alguém lhes abriu a via para
o investimento, foi porque alguém lhes prometeu mundos e fundos. Talvez não
fosse mau que os autarcas dissessem quem os animou...
O ponto mantém-se: o recurso a fundos comunitários faz tanto mais sentido
quanto mais estruturantes para a Região Norte forem os projetos (daqueles que
criam emprego, por exemplo). Para isso é preferível o diálogo entre os atores,
que abre portas, à mera posição sindical, que as fecha.
Os tempos são de
exigência: económica, financeira e política. Ter "uma visão, uma ambição" para
enquadrar os problemas ajuda muito. Acho eu. "
Retirada daqui