O painel de avaliação semestral dos membros do Governo que o nosso JN lançou
com a colaboração dos seus cronistas vale o que vale.
Na minha modesta opinião
(ainda por cima também em causa própria) vale como um barómetro que mede a
pressão vinda de vários quadrantes. O que já não é nada mau.
Quem o tem acompanhado sabe que a média geral do Governo, que começou perto
do Bom, tem vindo a cair paulatinamente e embora ainda permaneça positiva na
última edição de junho, já começa a resvalar para zonas perigosas.
Curiosamente, a avaliação de Passos Coelho não tem divergido muito da média
da avaliação feita ao seu Governo, ainda que nos primeiros tempos andasse um
pouco acima.
Isto pode querer dizer que o famoso estado de graça de que habitualmente
todos os governos gozam nos primeiros tempos de vida pode estar por um fio.
Também valem o que valem, mas há sinais que se têm feito ouvir. Já não é o
"Love is in the air" que se ouve.
Depois da pateada a Cavaco, também há fotos de um ministro em apuros na
Covilhã (em que nem a tática de Passos Coelho de enfrentar o pessoal em fúria
resultou).
Mesmo para quem ainda defende que o Governo depressa será capaz de recuperar
a sua graça, alguns dos seus membros já não me parece que tenham recuperação
possível.
Uma das coisas interessantes que tenho vindo a analisar são os casos dos
ministros que os meus colegas mais esquerdistas têm pontuado melhor e, ao
contrário, os casos dos titulares do Governo que a parte "direita" do painel
menos tem beneficiado na hora da atribuição dos pontos.
Como esta crónica não é nenhuma tese de mestrado... deixo-vos hoje e aqui os
meus considerandos em relação à ministra da Justiça, que depois de várias
ameaças nos meses anteriores não conseguiu escapar de uma negativa em junho.
Um ano foi quanto bastou para todos percebermos o monumental, mesmo colossal,
erro de casting cometido pelo primeiro-ministro.
Os mais atentos já tinham reparado na sua arrogância quando teve o seu
primeiro palco digno desse nome, num programa da SIC com Miguel Sousa Tavares,
de que já me escapa o nome.
Nessa altura era uma mulher bonita, dava os primeiros passos na televisão e
numa certa vida pública e... enfim, tinha que tentar estar ao nível do seu
contendor. Digo com isto que podia ser só defesa, timidez ou estratégia.
Agora no Governo, à frente da pasta mais polémica de todas, que não falta por
aí quem diga, da direita à esquerda, que a Justiça é o maior cancro do país, já
não pode ser nada disso.
Pedia-se, pede-se alguém que perceba da matéria, que tenha boas ideias e
muita coragem para as aplicar, mas também muita paciência, capacidade e
humildade para as explicar. A um povo que não confunde arrogância com
autoridade.
Paula Teixeira da Cruz tem sido tudo menos isso.
Não foi capaz de consensualizar uma única medida, que me recorde. Tem o
desplante de arrastar pela praça pública um confronto praticamente pessoal com o
bastonário da Ordem dos Advogados. Emite opiniões avulsas e controversas sobre o
procurador-geral da República, cuja designação não lhe compete.
Ao invés, não lhe ouvimos uma palavra prática sobre a eterna questão da
lentidão da Justiça. Mas o pior e o que a torna no tal colossal erro de casting
é a sua atitude diária. A sua falta de jeito para a função, o tom ríspido e
agressivo que põe em tudo o que diz. A altivez com que anuncia cada corte que
decide, sem uma palavra de solidariedade para os atingidos.
Em política não chega ter razão. A força da razão só vence a razão da força
quando esta última perde a razão de ser. Vergada por uma boa explicação ou
derrotada por um bom sorriso.
Retirada daqui