Estava longe de saber que o
Processo de Bolonha fosse a mãe do facilitismo a nível do Ensino Superior.
Agora, com o caso Miguel Relvas que se licenciou com apenas quatro exames e 32
equivalências (ditos créditos), veio muita coisa ao de cima e fiquei a saber
que há gente a formar-se a crédito.
Mais do que muitos.
O seu currículo político, governativo e profissional, equivaleu a 32 disciplinas do Curso de Ciência Política e Relações Internacionais, que acabou por tirar na Lusófona. Mas, pelo que parece, não aprendeu tudo.
Num só ano concluiu o curso. Uma nova oportunidade
de ouro. Mais espertalhão não podia ser. Só Sócrates, com curso tirado ao
domingo e em dois anos, o suplantará. As competências adquiridas ao longo da
vida projectaram-lhe o canudo. Se esperasse mais uns anos, nem seria preciso
fazer cadeira alguma.
Não existem, segundo Manuel Damásio, administrador da
Universidade, limites nos créditos que sustentam a competência profissional, o
que dá para tudo. Todos os cargos, se calhar mais os políticos, que teve no
âmbito empresarial, intervenção social e cultural, concorreram para os
créditos. Há gente assim muito esperta e com muita sorte. Ou ao mesmo tempo com
muito azar. Num curto espaço de tempo, o nome de Miguel Relvas foi rebolado na
praça pública.
Primeiro, os casos das Secretas e da pressão (claro, não
provada) sobre uma jornalista do Público; agora, ficou a saber-se que, em 1985,
quando foi deputado, pela primeira vez, no seu registo biográfico entregue no
Parlamento, mencionara a frequência do 2º ano de Direito.
Confrontado com esta
situação, veio dizer que isso não passou de um lapso que entretanto corrigira.
Elucidativo para um governante. Que lindo exemplo! Deveria saber que não são os
canudos que governam, mas a sabedoria e a honestidade dos homens. O canudo
derrotou-o, tornou-se uma dor para Passos.
Quem não gostou nada desta
revelação foi a Associação de Estudantes da referida Universidade que veio
pugnar e zelar pelo bom nome do estabelecimento de Ensino e pelos estudantes
decentes que, estudando a sério as matérias, todos os dias, acabam por tirar,
sem esse arranjinho dos créditos, os seus merecidos canudos.
Falaram mesmo de
fraude.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 12 de Julho de 2012