A noite do último sábado não foi cor-de-rosa para a selecção nacional sub-20.
E também não foi cor-de-rosa para vários adeptos que, à pala do desaire no jogo de futebol, beberam de mais e acabaram enleados nas teias das operações STOP, montadas pelas polícias em vários pontos da Grande Lisboa, quando tentavam regressar a casa.
Desnorte e desilusão. Mas mesmo na história mais sombria há tonalidades mais alegres (já lhe falámos do cor-de-rosa?).
Na história da Ana Patrícia, uma empresária divorciada de 38 anos apanhada a conduzir embriagada na madrugada de sábado, é o carro que é cor-de-rosa. Já se sabe que um carro assim é susceptível de despertar atenções e Ana Patrícia foi fiscalizada. E se naquela noite a selecção de Portugal não ganhou o mundial por um triz, também foi por pouco que a empresária divorciada do carro cor-de- -rosa foi instada a comparecer em tribunal: quando soprou no balão acusou uma taxa de alcoolemia de 1,21 g/l (é crime a partir de 1,20 g/l). Patrícia não pareceu especialmente ralada com o desaire. Não pediu contraprova e nem sequer compareceu em tribunal, apesar de notificada. Mas a juíza, com o talão do alcoolímetro à frente - nada cor-de-rosa - leu-lhe na mesma a sentença: 300 euros de multa e durante três meses nada cor-de-rosa nem de carta de condução.
Logo a seguir é a vez de Goreti ser chamada à sala de audiências. Goreti é uma mulher à séria: chefe da PSP, habituadíssima a lidar com criminosos da pior estirpe e a mandar em homens armados até aos dentes. Não é para brincadeiras, a Goreti. A mulher-polícia foi chamada ao tribunal para contar o que viu na fatídica noite do jogo de futebol entre Portugal e o Brasil, quando se preparava para acabar o turno. Ia a Goreti num carro patrulha com um agente, cerca das 5h20 da madrugada, quando um Audi A6 azul-escuro sai disparado - "abruptamente", nas palavras de Goreti - de um estacionamento ao pé do Pavilhão Atlântico. Foi por um triz que não bateu no carro dos polícias. Do Audi sai Diaconu, um romeno cambaleante e feliz. "Ele dizia que se sentia bem, que nem percebia como é que estava a acusar álcool porque se sentia excepcionalmente", contou Goreti no tribunal, à paisana e com um mala cor-de-rosa pendurada no braço. Diaconu, o romeno do Audi, não se dignou comparecer em tribunal, mas por ter acusado uma taxa de álcool de 2,23 g/l a juíza não esteve com meias medidas e aplicou-lhe uma multa de 500 euros, além da proibição de voltar a pegar no Audi A6 e em todos os veículos motorizados em geral - sejam cor-de-rosa ou não - por um período de cinco meses.
Na mesma fatídica noite, uma hora antes, o azar calhava a P. Flamingo, técnico de farmácia, na Avenida de Ceuta. Flamingo apareceu no tribunal com a namorada atrelada, aparentemente mais nervosa que ele. A juíza leu o auto e recordou como Flamingo decidiu conduzir o seu Mazda cinzento, já de madrugada, apesar de bêbedo. E bem bêbedo: o aparelhómetro da polícia acusou uma taxa de álcool de 2,13 g/l. "É verdade, sim. Tinha ''tado num jantar, bebi vinho. A seguir fomos para uma festa, onde estivemos a beber shots entre nós. O último que bebi foi mesmo antes de me vir embora, sotôra." Flamingo, envergonhado e de poucas falas, confessa tudo.
A dada altura ganha embalagem, toma o gosto ao microfone do tribunal e desata a falar compulsivamente. "Houve uma colega minha que se sentiu mal, por isso é que peguei no carro, ofereci-me, nunca imaginei que tinha uma taxa tão elevada, sentia-me tão bem, tão feliz, se calhar foi por ter acabado de beber", começa a contar - com a namorada a roer as unhas pintadas de cor-de-rosa berrante, sentada na última fila da sala de audiências. A juíza diz de sua sentença que Flamingo não só terá de pagar 720 de multa como ainda ficará sem carta durante sete meses. A namorada leva as pontas dos dedos cor-de-rosa à cara e desfaz-se em lágrimas e em soluços. Flamingo resigna-se. "Imagine que um alcoólico mata um filho seu, ao volante. Pense nisso. Pode ir embora", remata a juíza. Que só seria cor-de-rosa se houvesse bar aberto no tribunal e se a magistrada tivesse tromba.
Rosa Ramos, aqui