segunda-feira, 7 de maio de 2012

ABRIL TRAÍDO

As comemorações do 25 de Abril, data histórica em que Portugal entrou no clube livre dos países democráticos, nunca foram tão recheadas de cenas pouco edificantes e até de tantas ameaças. emasiado tontas para o tempo que se vive de crise profunda. Aliás, a história anda mal contada.  Resume-se ao lirismo dos cravos nos canos das armas e ao fim da guerra, o derrube da ditadura, as chaimites nas ruas e o povo comemorando com os soldados os caminhos da nova liberdade que, após Maio, já estava bichada.

A ameaça por Otelo do Campo Pequeno para os reaccionários, as barragens nas estradas, a Reforma Agrária, as nacionalizações, os assaltos à propriedade privada, a sovietização do regime com uma democracia popular (PCP), os saneamentos, a divisão do país em dois em Rio Maior, a iminência de um banho de sangue - eram muitos os 25 de Abril.

Este ano, a Associação 25 de Abril resolveu afastar-se das comemorações na AR, preferiu a rua, alegando que “os eleitos não representam a sociedade portuguesa e a Assembleia da República não representa os eleitores”, como se não fosse gente eleita; “o poder político que actualmente governa Portugal configura outro ciclo político que está contra o 25 de Abril”.

Ameaça de um novo golpe? Nada disso. Basófias, como as do incorrigível Otelo. Os militares hoje não têm problemas de promoções ou de salários. Os capitães de Abril só querem dizer que estão vivos e ainda mexem, apesar de um pouco pesados.
Logo se associou a esta posição, invocando a austeridade sem limites e dando o braço a José Seguro, Mário Soares, o dito pai da Democracia, que não é único, - ela foi salva sobretudo por Ramalho Eanes,  e Jaime Neves, dando o corpo ao manifesto, perante os desvios da matriz inicial.

Outro, Manuel Alegre, que não é dono exclusivo de Abril. Confundindo uns e outros que o governo é uma coisa e a Assembleia da República outra. Onde estão a democracia e Abril? Nos seus interesses pessoais, partidários e ideológicos? Uma coisa é certa. A partir daqui, nada mais vai ser igual e adivinham-se rupturas da parte dos que mais nos levaram ao fundo do abismo, à perda da inteira soberania, à Troika, à dívida imensa, à maior pobreza após o 25 de Abril.
Bom senso e  diálogo governo/PS precisam-se.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 3 de Maio de 2012