quinta-feira, 26 de abril de 2012

O SER E O PARECER

A Câmara Municipal de Oliveira do Bairro teve uma auditoria por parte da Inspecção Geral de Finanças.

Como acontece normalmente em todos os assuntos que lhe são incómodos, o Sr. Presidente da Câmara apresentou o relatório numa reunião de câmara privada (sem presença de público nem de imprensa) e sob a forma de aditamento (sem consulta prévia dos documentos).


E portanto, a conclusão que ficou em acta relativamente ao documento, foi a apresentação feita pelo Sr. Presidente da Câmara sem que os vereadores, nomeadamente os da oposição, tivessem condições para dar o seu parecer porque não viram o relatório.

Os anos vão passando e não se percebe a razão de se continuar a esconder aquilo que é incómodo. 
O resumo do relatório que foi apresentado na reunião de Câmara é apenas uma das faces da moeda. Aquela que interessou apresentar. A face positiva. A versão conveniente. No entanto, o Sr. Presidente da Câmara não informou que o relatório diz que “a autarquia não adequou o nível da despesa à sua capacidade tendo em conta a real cobrança da receita”.

E que “a violação sistemática do princípio do equilíbrio orçamental espelha a realização/existência de despesas acima da real capacidade financeira do município para fazer face aos compromissos assumidos”.

Ou que “o Município apresentou uma estrutura financeira de curto prazo pouco equilibrada…de que resultou a dificuldade em solver atempadamente os seus compromissos, bem como a oneração indevida de orçamentos futuros”.
Não era necessário o relatório da inspecção para termos noção da degradação do passivo do município. Basta analisar os mapas seguintes para verificarmos a forma como as dívidas têm aumentado.

Podemos verificar, que exceptuando Cantanhede, Oliveira do Bairro é o município da Bairrada com maior aumento das dívidas a terceiros. Se analisarmos a decomposição do passivo constatamos que este aumenta no curto e no médio/longo prazo, numa proporção que começa a ser preocupante.
Os dados apresentados referem-se ao primeiro mandato do PSD na Câmara de Oliveira do Bairro. Em 2010 e 2011, estes valores voltaram a aumentar e são os maiores de sempre no nosso Município.
Nos últimos anos tivemos em Portugal um primeiro-ministro que reiterava sucessivamente a boa saúde financeira do país e para quem, as denúncias da oposição não passavam de mal dizer e politiquice doméstica. O resultado está à vista. O país vive a maior crise de que há memória, com o deficit orçamental e nível de desemprego mais altos de sempre.
Em Oliveira do Bairro também temos tido um discurso semelhante. O que é preciso é fazer obras e festas, porque há dinheiro para ser gasto. A oposição do CDS só sabe mal dizer, e a situação financeira do município é boa e não gera preocupação.
O relatório da inspecção das Finanças demonstra o contrário. E infelizmente os números também.
Jorge Pato, no 'Jornal da Bairrada' de 19 de Abril de 2012