Já há um par de meses que o carro se queixava. E para o fim era o
cabo dos trabalhos para ele vencer, em primeira!, a ligeira rampa da
garagem do edifício da Impresa, em Paço de Arcos.
Sexta acordei mais cedo, atulhei o carro com roupa,
livros e CD, acondicionados naquelas caixas vermelhas dos CTT. Ao
início da tarde, após ter fechado pela última vez o caderno de Economia
do "Expresso", guiei devagar pela Marginal até Santa Apolónia.
Fiquei
para a minha vida e sem saber o que fazer depois de ter sido informado
por um papelinho, colado no portão do serviço auto, que o transporte
ferroviário de viaturas tinha sido descontinuado em abril.
Apesar
de estar careca de saber que o Mini não estava com saúde para a grande
viagem, não havia outra solução senão fazer-me à estrada. Não o podia
deixar ficar para trás, abandonado numa rua em Lisboa, com a tralha
acumulada durante três anos e meio à vista dos olhares gulosos dos
amigos do alheio.
Aguentou com garbo até à Serra dos Candeeiros.
Ao km 104 claudicou. O motor trabalhava, as velocidades entravam, mas o
Mini não se mexia.
O reboque demorou apenas mais uns minutos que a
meia hora prometida pela menina da Assistência em Viagem. Estava eu a
começar a fazer conversa com o condutor do reboque, que julgava me iria
levar ao Porto, quando ele virou para a área de repouso de Fátima, onde
deixou parte da carga (eu e as caixas) e me disse para esperar por um
táxi que me viria buscar - e avisou que o Mini só na segunda estaria em
Arcozelo.
O taxista, que demorou uns 20 minutos a chegar, era uma
tagarela que me alarmou logo de entrada, ao dizer que estava com
problemas nos travões, e me surpreendeu ao sair da autoestrada em
direção a Leiria. "Tenho instruções para o levar a uma rent-a-car",
respondeu quando eu protestei dizendo que o meu destino era o Porto.
Foi
ao volante de um carro coreano (talvez tão pequeno como o meu Mini mas
que tinha a enorme vantagem de tratar as subidas por tu ) que fiza a
última etapa desta atribulada viagem, que recordo a propósito desta
edição do nosso JN em que o verbo confiar é conjugado em todas as
secções.
O moral que tiro desta aventura é duplo. Apesar de não
ser simples, o serviço de Assistência em Viagem revelou-se confiável.
Apesar de não ser de confiança, eu continuo a gostar muito do meu Mini
Clubman, fabricado no ano da Revolução dos Cravos.
Jorge Fiel, aqui