quarta-feira, 28 de março de 2012

MUITOS NÃO CONSEGUEM EMPREGO COMPATÍVEL COM A FORMAÇÃO

Muitos dos portugueses que emigram não conseguem empregos compatíveis com a sua formação, disse o secretário de Estado das Comunidades, sublinhando que a maioria dos que deixam o país continua a ser trabalhadores com poucas qualificações.

"Da análise que vou fazendo no terreno, pelos contactos que vou tendo, efetivamente percebo que muitas destas pessoas [que emigram] não conseguem ter uma saída compatível com a sua formação", disse José Cesário em entrevista à agência Lusa.

Ressalvando que se trata apenas "de uma opinião baseada na auscultação de pessoas", o responsável aponta como uma das razões desta situação o desconhecimento da língua francesa.

"Muitas dessas pessoas dirigem-se a um mercado de trabalho de países francófonos - França, Luxemburgo, Suíça, Bélgica - e não falam francês. Isto é um obstáculo grave. Os nossos jovens dominam melhor o inglês do que o francês e nestes países, que é onde vai havendo oportunidades de trabalho, o francês é um instrumento fundamental", considerou.

"Há muita gente qualificada a sair. Quando mais de 30 por cento dos desempregados são jovens, e analisando as qualificações académicas da juventude portuguesa, facilmente verificamos que muitos dos que saem são licenciados [...], mas a maioria ainda são pessoas sem qualificações", acrescentou.

José Cesário, que hoje vai à comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades da Assembleia da República falar sobre fluxos migratórios, lembrou que, em média, saem de Portugal entre 120 mil a 150 mil portugueses por ano, renovando as críticas ao anterior executivo socialista por ter ocultado esta realidade.

Confrontado com as críticas dirigidas ao Governo por propor a emigração como a solução para os problemas de desemprego em Portugal, José Cesário negou que haja um discurso de incentivo à saída.

"A emigração não é a grande solução, é uma solução que as pessoas usam como recurso. Apelamos a que tentem resolver o problema aqui, mas obviamente para que o façam a economia tem que estar melhor do que está hoje", disse.

José Cesário admitiu que o aumento da emigração está a gerar o aumento de casos sociais e de exploração de mão-de-obra, e sublinhou a importância de prevenir esses casos em Portugal.

"Há todo o tipo de casos. Estamos a identificar e a conseguir que alguns parceiros no terreno desenvolvam ações para esta gente [...]que as instituições possam dispor do mínimo de meios para, por exemplo, alojar pessoas, pagar medicamentos, bilhetes de autocarro ou mesmo para dar comida", disse.

"Estávamos habituados a este tipo de questões em países de fora da Europa. Estamos agora com uma realidade nova da Europa, onde os sistemas sociais locais funcionam apesar de tudo, mas precisamos que as comunidades se mobilizem. Por isso, estamos a disponibilizar apoios a associações para este efeitos", acrescentou.

Em Portugal, o Governo avança em maio com uma campanha de informação e aconselhamento a candidatos a emigrantes através da distribuição de panfletos em igrejas, juntas de freguesia ou estações de autocarros.

José Cesário adiantou que a ação vai privilegiar desta vez as organizações no terreno em detrimento de campanhas com figuras mediáticas.

"As pessoas que mais precisam de ajuda normalmente não leem jornais, muitos não veem televisão, é um público a que é muito difícil chegar. A opção é apostar numa campanha que privilegie instituições como os municípios, as paróquias e as próprias juntas de freguesia", disse José Cesário.

Explicou ainda que Governo irá apoiar também uma campanha "pouco ortodoxa" do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil do Norte, que prevê a colocação de faixas nas centrais de camionagem e nas estações de caminhos de ferro, alertando para os riscos de uma emigração desinformada.

Retirada daqui