Muitos dos portugueses que emigram não conseguem empregos compatíveis
com a sua formação, disse o secretário de Estado das Comunidades,
sublinhando que a maioria dos que deixam o país continua a ser
trabalhadores com poucas qualificações.
Ressalvando que se trata
apenas "de uma opinião baseada na auscultação de pessoas", o responsável
aponta como uma das razões desta situação o desconhecimento da língua
francesa.
"Muitas dessas pessoas dirigem-se a um mercado de
trabalho de países francófonos - França, Luxemburgo, Suíça, Bélgica - e
não falam francês. Isto é um obstáculo grave. Os nossos jovens dominam
melhor o inglês do que o francês e nestes países, que é onde vai havendo
oportunidades de trabalho, o francês é um instrumento fundamental",
considerou.
"Há muita gente qualificada a sair. Quando mais de 30
por cento dos desempregados são jovens, e analisando as qualificações
académicas da juventude portuguesa, facilmente verificamos que muitos
dos que saem são licenciados [...], mas a maioria ainda são pessoas sem
qualificações", acrescentou.
José Cesário, que hoje vai à comissão
de Negócios Estrangeiros e Comunidades da Assembleia da República falar
sobre fluxos migratórios, lembrou que, em média, saem de Portugal entre
120 mil a 150 mil portugueses por ano, renovando as críticas ao
anterior executivo socialista por ter ocultado esta realidade.
Confrontado
com as críticas dirigidas ao Governo por propor a emigração como a
solução para os problemas de desemprego em Portugal, José Cesário negou
que haja um discurso de incentivo à saída.
"A emigração não é a
grande solução, é uma solução que as pessoas usam como recurso. Apelamos
a que tentem resolver o problema aqui, mas obviamente para que o façam a
economia tem que estar melhor do que está hoje", disse.
José
Cesário admitiu que o aumento da emigração está a gerar o aumento de
casos sociais e de exploração de mão-de-obra, e sublinhou a importância
de prevenir esses casos em Portugal.
"Há todo o tipo de casos.
Estamos a identificar e a conseguir que alguns parceiros no terreno
desenvolvam ações para esta gente [...]que as instituições possam dispor
do mínimo de meios para, por exemplo, alojar pessoas, pagar
medicamentos, bilhetes de autocarro ou mesmo para dar comida", disse.
"Estávamos
habituados a este tipo de questões em países de fora da Europa. Estamos
agora com uma realidade nova da Europa, onde os sistemas sociais locais
funcionam apesar de tudo, mas precisamos que as comunidades se
mobilizem. Por isso, estamos a disponibilizar apoios a associações para
este efeitos", acrescentou.
Em Portugal, o Governo avança em maio
com uma campanha de informação e aconselhamento a candidatos a
emigrantes através da distribuição de panfletos em igrejas, juntas de
freguesia ou estações de autocarros.
José Cesário adiantou que a
ação vai privilegiar desta vez as organizações no terreno em detrimento
de campanhas com figuras mediáticas.
"As pessoas que mais precisam
de ajuda normalmente não leem jornais, muitos não veem televisão, é um
público a que é muito difícil chegar. A opção é apostar numa campanha
que privilegie instituições como os municípios, as paróquias e as
próprias juntas de freguesia", disse José Cesário.
Explicou ainda
que Governo irá apoiar também uma campanha "pouco ortodoxa" do Sindicato
dos Trabalhadores da Construção Civil do Norte, que prevê a colocação
de faixas nas centrais de camionagem e nas estações de caminhos de
ferro, alertando para os riscos de uma emigração desinformada.
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