segunda-feira, 26 de março de 2012

JAMAIS VIVALMA GRANJEOU MAIOR RESPEITO POR SE COLOCAR DE CÓCORAS

No nosso imaginário nacional “Eles” têm um lugar de destaque. O “Eles” é uma entidade abstracta que representa sempre alguém que está acima dos outros e que sobre estes exerce poder.

O “Eles” satisfaz a nossa necessidade de observarmos conspirações à nossa volta que explicam o que corre mal nas nossas vidas. Tenhamos ou não razão, esta exegese tem como corolário o “isto está bom é para Eles.

Administrações da Galp e EDP já tiveram 13 ex-governantes cada na chefia de empresas dos seus grupos. No entanto, a campeã é a ‘pública’ Caixa Geral de Depósitos, que já albergou 23 ex-ministro ou ex-secretários de Estado. Segue-se a PT com 19.

Não contabilizamos assessores nem aqueles tipos de satélites humanos, amigos, familiares e vulgos “tachistas”, que gravitam em torno de interesses menos claros. Não contabilizamos empresas estrangeiras com interesses em Portugal. Não contabilizamos as empresas nacionais que foram altamente beneficiadas em prejuízo do Estado. Como vêem, ficam muitos dos “Eles” por contabilizar.

Vivemos numa epidémica idiotice. Somos todos cordiais que aceitam tudo o que nos oferecem. Partindo desse raciocínio caminhamos para a teoria do “pão e circo” e o resto vira filosofia barata. Vivemos dos carnavais, das novelas e das festas que por aí vão proliferando à medida que os nossos velhos morrem sozinhos, que os nossos doentes morrem por falta de cuidados, que os assaltos por fome aumentam e, neste país onde há cada vez mais crianças marginalizadas, aprendemos que temos de sofrer as cretinices dos outros porque a vida é assim e “Eles” sabem o que estão a fazer porque falam muito bem na televisão. Percebemos porque temos de premiar estes asnos que nos levaram à crise. Talvez isso explique o facto de sermos um país ainda miserável, mas cada vez mais alegre e, apesar de não sabermos por onde ir, temos a certeza que deveríamos estar longe. E todos têm a certeza que a culpa é de “Eles”.

Nada mudou e, pelos vistos, nem com a crise mudará. Aliás, quando recuperarmos das dívidas actuais, não acredito que, alguma vez, iremos recuperar os direitos alienados em nome da crise. Dizem-nos que vivemos acima das possibilidades. Dizem que somos responsáveis por empreendimentos com custos de obras a mais duas a quatro vezes superiores. Dizem que somos responsáveis por um Banco que desapareceu com milhões de contos e outros tantos de euros. Dizem que somos responsáveis por haver estradas a mais e Hospitais a menos. É por sermos responsáveis que temos todos de pagar até não conseguirmos mais viver neste país.

O mais estranho é que como “Eles” não sinto qualquer responsabilidade nisso. Pena não ter as mesmas regalias porque então poderia comungar com estes asnos o mesmo despudor desavergonhado por um país que fede de morte e não há purificador à vista que o possa salvar.

Independentemente de tudo quanto já disse da crise, sobrará por referir que, cada vez mais, e sobretudo sempre que for solicitado que se sacrifique, mais um pouco, pelo seu país ou pendure bandeiras nas varandas, a resposta adequada deverá passar por, ao emprego frásico da expressão «deste Portugal», deixar de anteceder o predicado sentir (conjugado na primeira pessoa do presente do indicativo), complementado pelo substantivo vergonha, já que com propriedade ainda maior será conjugada a mesma forma do referido verbo sentir seguido dessoutro substantivo nojo.

Paulo Figueiredo, aqui