Ninguém quer perder "direitos adquiridos". Todos os autarcas, importantes no seu trabalho de proximidade, esquecem-se que o tempo é de mudança e ajustamentos.
Isso vai dar água pelas barbas ao Relvas que as não tem e a Passos Coelho que certamente já as pôs de molho. Com as eleições autárquicas em 2013, não há partido que queira ver-se "queimado".
Continuamos com a mania de que somos grandes, quando todos juntos somos pouco mais do que a cidade de Paris. Custa-nos a crer que tal reforma se venha a fazer, com pequenos retoques. É muito difícil tocar na barriga do poder local que vai levando a água aos seus moinhos. O governo não irá desfazer municípios, empresas municipais, exigir limites de endividamento e é muito curta a redução de funcionários, se não se der o inverso.
A verdade é que o poder local, também ele responsável pelo regabofe nacional, tem de certo modo os partidos na mão. E Passos Coelho está "refém" de Fernando Ruas, que, sendo senhor da Federação dos Municípios, tem a faca e o queijo na mão de padrinho que é de Passos Coelho a presidente do PSD. O poder local, que também é gastador compulsivo, muitas vezes em obras de fachada e sem utilidade, faz o que quer e ainda lhe sobra tempo. Ou melhor, falta-lhe para declarar ao governo as verdadeiras dívidas.
Relvas e Gaspar viram-se mesmo forçados a enviar cartas às Câmaras a solicitar-lhes o favor desses dados, apelando até ao sentimento patriótico e solidário.
A carta é mais uma amostra de como é difícil pôr em ordem o poder local (algum poder local), agarrado à mesa do Orçamento e à rédea solta.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 8 de Março de 2012