Na semana passada escrevi sobre aflição Grega e do caminho que temos seguimos em Portugal para atingirmos um desespero semelhante.
Quando escrevo este editorial, a incógnita grega mantém-se, apesar de já ter sido desbloqueado um pacote de ajuda financeira suficiente para prolongar a agonia grega.
A incerteza que durou sete longos meses para se saber se a Europa salvava ou não a Grécia atingiu irremediavelmente a própria Europa. O arrastar das negociações, a incapacidade de se tomarem decisões, o constante medir de forças entre os estados ricos e os endividados, tem semeado escolhos no caminho duma Europa que se pretendia unida. Vivemos num covil de hipocrisia em vez da apregoada solidariedade.
A potencial força europeia alavancada por um mercado de 500000 indivíduos cai abruptamente com estas incapacidades políticas perante o pragmatismo americano ou a paciência chinesa.
Temo mesmo que os Países mais fortes vejam os seus amigos do sul e periféricos como umas quintas para passar férias e pouco mais. Se analisarmos bem percebemos que algo está errado.
Uma europa que consagra 40% do seu orçamento à política agrícola quando o problema central é da produção industrial que cai a pique destruído pela desregulação das importações de países sem assistência social.
Uma Europa que destrói com incentivos a produção nos países periféricos tornando-os consumidores dos primeiros. Uma Europa cujo sistema de decisão é um intricado sistema de negociações e que quando por fim toma uma decisão o problema é já insolúvel.
Sempre fui um europeísta mas este exemplo de deixaram afundar países periféricos até agora apontados como exemplos (Irlanda) faz-me pensar bastante. Claro que existem demasiadas culpas no cartório nos chamados PIIGS (Portugal, Ireland, Italy, Greece na Spain) porque de repente acharam que eram ricos.
Quando aderimos à Europa dizia-se que finalmente iríamos progredir quanto mais não fosse porque seríamos geridos pelo centro desenvolvido da Europa. Passados 26 anos percebemos que talvez não seja bem assim pois os burocratas europeus são tão maus quantos os nossos e os decisores políticos mal se distinguem dos indígenas.
António Granjeia, no 'Jornal da Bairrada' de 23 de Fevereiro de 2012