quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

CASA DA DEMOCRACIA OU DA INDIGÊNCIA?

Os deputados discutem fantochadas. O contrário é que seria de espantar.

O país anda de mão estendida por culpa dos governos, dos políticos e dos crânios que pastoreiam a pátria há anos a fio. Seria natural que perante esta desgraça os senhores e senhoras que atiraram os portugueses para este inferno mostrassem algum pudor, alguma vergonha, ou que, em alternativa, optassem por um prudente silêncio, para não despertarem nas vítimas desejos e sentimentos que naturalmente não estão de acordo com os bons costumes e o relacionamento civilizado entre seres humanos.

Ora nada disso acontece. Indiferentes a tudo e a todos, particularmente ao que fizeram, continuam a falar de alto, como se fossem pessoas de bem indignadas com as malfeitorias. E procuram sempre disfarçar os assuntos que interessam aos portugueses, às suas vidas e aos seus bolsos com polémicas esotéricas, imbecis, daquelas que dão muita parra e pouca uva, em nome de sagrados princípios de que obviamente se esquecem na primeira esquina do poder.

Uma é a inevitável censura, o velho e tenebroso lápis azul salazarento, o atentado à liberdade de opinião, de expressão, a sagrada defesa da não menos sagrada liberdade de imprensa. Nada melhor para as almas podres deste regime darem azo à imaginação, berrarem como cabritos, exigirem inquéritos, audições e punições exemplares para os criminosos que ousaram violar a santíssima democracia.

É ver António José Seguro entre o indignado e o compungido a debitar lugares-comuns no parlamento e a perguntar ao primeiro- -ministro se não estava incomodado com a demissão da direcção de informação da rádio do Estado. Passos Coelho não lhe podia ter respondido melhor, ao dizer que o assunto não o preocupava mesmo nada. É um facto. Em nome do Rosa, o mais recente asfixiado do regime democrático, o parlamento perdeu tempo que Portugal não pode desperdiçar com assuntos idiotas. Acabou um programa que ninguém ouvia, ponto final. Mas a indignação não podia parar. Outra vez Seguro, com a mesma voz indignada e compungida, a clamar contra Vasco Graça Moura, que erradicou do Centro Cultural de Belém um aborto chamado Acordo Ortográfico.

O líder da oposição, entalado entre a troika e a pesada herança socrática, tenta sempre refugiar-se em assuntos fúteis e em fantochadas nos intervalos dos imensos lugares-comuns que atira para o ar a propósito de cimeiras europeias, tratados, austeridade e crescimento económico. Assim vai a pátria falida e decrépita. Com deputados indignados com um programa que acabou porque ninguém ouvia e por um acordo estúpido, um nado morto, mais uma obra-prima desta terra cheia de obras e primas à beira da catástrofe.

Continuem assim e vão ter um triste fim. Acham que o regime é eterno e que os portugueses estão dispostos a aturar tudo com resignação. Mas olhem que não. A situação não está nada fácil, o ambiente está muito complicado e nestas coisas sociais basta uma pequena fagulha para provocar incêndios devastadores. Tenham muito juizinho, não invoquem as sagradas liberdades em vão e mostrem, mesmo a contragosto, algum respeito por quem está a sofrer.

Por vossa culpa.

António Ribeiro Ferreira, aqui