sábado, 28 de janeiro de 2012

POBRES

A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.” Mia Couto

A capacidade empreendedora dum povo é sempre diretamente proporcional à qualidade intrínseca dos seus líderes. Sempre que tivemos líderes impulsivos, com capacidade de risco, despreocupados com seu próprio bem-estar e focados na defesa dos interesses do País, demos saltos progressivos na nossa qualidade de vida e na afirmação de Portugal. A nossa longa história está repleta de episódios onde a inveja, a usura e hipocrisia dos líderes sempre coincidiu com o nosso declínio como povo e Nação.

Não temos tido líderes políticos à altura do nosso presente. Somos um povo trabalhador, humilde, abnegado mas também que rapidamente se acomoda a um bem-estar muitas vezes enganador. Assim são muitas vezes os nossos comandantes.

O nosso presidente até pode ter sido uma declaração menos pensada e até infeliz mas certamente não deixou de expressar o que realmente pensa sobre o valor dos seus rendimentos mensais. Cavaco acha, como a maioria dos seus compatriotas, que ganha pouco. Por isso abdicou do vencimento relativo ao seu cargo presidencial e optou pelas pensões de reforma que lhe davam mais. O problema é que, comparativamente à plebe que diz representar, Cavaco pensou sobretudo nele. Talvez seja injusto massacrarem o presidente de cada vez menos portugueses por um dia de menor inspiração e mais próximo do enfado que ele sente em aturar diariamente os jornalistas ou a maçada de ter que dar beijos a uns garotos desalinhados. Cavaco arrumou de vez com o capital de tolerância que detinha e esqueceu-se que foi primeiro ministro durante 10 anos e portanto responsável pelo desenvolvimento de Portugal como também pelo crescimento das gorduras no Estado ou da vírica estirpe de portugueses que se alimentam e prosperaram à sua sombra.

Cavaco, em vez de humildemente pedir desculpa pública por umas palavras deslocadas e menos pensadas, preferiu esconder-se noutra declaração redonda que até o mais imbecil compatriota percebe que é inútil e desavergonhada.

Desejo sinceramente ao senhor presidente que a sua consciência lhe pese tão pouco quanto a carteira dos portugueses hoje em dia e para castigo fazer 10 cópias de todos os comentários deixados na sua página do facebook

António Granjeia, no 'Jornal da Bairrada' de 26 de Janeiro de 2012