sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

PASSOS PRECISA DE ÉTICA COMO DE PÃO PARA A BOCA

Confrontados com as nomeações na EDP e nas Águas de Portugal, os mais cínicos encolhem os ombros e dizem: "E então? Portugal é assim desde 1143."

Portugal até pode ser assim desde 1143. E durante os últimos 869 anos essa resposta até pode ter servido.

Mas agora já não serve. Acabou. Hoje em dia, a moralização da vida pública portuguesa é uma absoluta necessidade não por ser justa, decente, bonita ou nos ajudar a chegar ao céu.

Ela é uma absoluta necessidade por razões puramente pragmáticas – é a única forma de conseguirmos reformar o país onde vivemos.

Por uma vez, a lucidez não está do lado dos cínicos. Quando Passos Coelho enfia ou deixa enfiar os seus amigos favoritos num qualquer Conselho de Supervisão, não está apenas a repetir as acções de José Sócrates e de toda a pandilha que o precedeu – está a agravar as poucas hipóteses que temos de sair do buraco onde estamos enfiados. Está a dizer a cada português para se comportar como um grego, porque, assim como assim, quem manda em nós nunca há-de mudar. E se o Estado não muda, porque hei-de eu?

A moralização da vida pública é imprescindível porque é o único caminho possível para a mudança. Os portugueses perceberam que têm de fazer sacrifícios. Mas para isso têm de sentir que vale a pena fazê-los. Quebrada essa confiança, destruída a esperança de transformar este país num lugar mais frequentável para os nossos filhos, então eu deixo de sentir qualquer responsabilidade moral para andar por aí a penar. Querem que eu sofra por quem? Por Eduardo Catroga e por Celeste Cardona? Não nos lixes, Passos Coelho. Já tivemos a nossa dose de mediocridade. Ninguém atura mais.

João Miguel Tavares, aqui