domingo, 11 de dezembro de 2011

O CANCRO DA MAMA NÃO É UMA FITINHA COR-DE-ROSA

Olho para a fotografia de uma mulher grávida, com a profunda cicatriz de uma mastectomia e não consigo deixar de me arrepiar e pensar que esta frase faz todo o sentido: "O cancro da mama não é uma fitinha cor de rosa".

Arrepio-me não só pela crueza da imagem mas também pela serenidade que o olhar dela transmite. A serenidade dos que sobreviveram à sombra da morte.

A fotografia faz parte do "Scar Project" (em português, "Projecto Cicatriz"), do fotógrafo de moda David Jay , que se tem dedicado a revelar ao mundo histórias de jovens sobreviventes do cancro da mama. Ao todo, já foram retratadas mais de 100 mulheres, todas com idades entre os 35 e os 55 anos, numa mensagem de sensibilização muito clara: a doença afeta cada vez mulheres mais novas e o rastreio é essencial.

Sinto um nó na garganta enquanto percorro uma a uma as imagens. São mulheres reais, com histórias, olhares e cicatrizes reais. A preto e branco ou a cores, sozinhas ou acompanhadas por quem esteve ao seu lado na dura batalha com o cancro, as sobreviventes mostram a nova realidade dos seus corpos. Sem pudores. Com a coragem e a honestidade de quem já aceitou a mastectomização, não só da mama mas também da alma. Onde as feridas profundas na perceção da feminilidade demoram muito, diria mesmo demasiado, a cicatrizar.

"Fiz as pazes com o meu espelho"
Leio as mensagens sensibilizadas, deixadas por outras mulheres e multiplicam-se os casos não só de outras sobreviventes, como também de doentes prestes a serem operadas, que perceberam que não estavam sozinhas quando viram estas imagens. " Este livro ajudou-me a ter orgulho nas minhas cicatrizes", escreve uma, seguida de outra: " A beleza está na autenticidade de todas estas mulheres". Concordo.

E ao ler isto ecoa na minha cabeça uma frase que ouvi durante uma entrevista a uma sobrevivente de cancro da mama, que nunca mais esqueci: "Fiz o que todas as mastectomizadas têm de fazer: as pazes com o meu espelho". E sabendo que a velha frase do "isto só acontece aos outros" cada vez faz menos sentido, só consigo fechar os olhos enquanto repito um pensamento comum a tantos saltos altos: espero nunca ter de passar por isto.

O "Scar Project" foi já publicado em livro (que pode comprar aqui ) e deu origem também a um documentário. Tudo, "dedicado às mais de 10 mil mulheres com menos de 40 anos que, só neste ano, serão diagnosticadas". Os lucros revertem a favor de programas de investigação para o tratamento do cancro da mama, doença que continua a ser a principal causa de morte das mulheres entre os 35 e os 55 anos. Posto isto, lembrei-me de deixar aqui a sugestão: por que não pôr este livro num dos sapatinhos?

Paula Cosme Pinto, aqui