Numa semana turbulenta, sob muitos aspectos, em que o Diário de Notícias revelou que a justiça (ou a falta dela) é condicionada pela Maçonaria e Otelo Saraiva de Carvalho revelou a habitual e façanhuda falta de bom senso, lançando a ameaça de outro golpe, para o que seriam apenas necessários 800 homens - teve início, no Tribunal de Aveiro, o julgamento do caso Face Oculta, sobre o qual pairam a sombra de um ausente, José Sócrates, e o apagão das escutas telefónicas das conversas entre este e o antigo ministro socialista Armando Vara.
Tudo se prepara (ou preparou) para o processo dar em nada. Como todos os que envolvem gente da política. Armando Vara começou por negar ter recebido qualquer envelope com uma migalhita de 25 mil euros em casa do principal arguido, o sucateiro Manuel Godinho, ao mesmo tempo que confessou não se lembrar de ter recebido presentes de Natal (um relógio e uma caneta Montblanc).
Mas condescendeu em revelar que apenas recebeu uma caixa de robalos e um pão-de-ló, tudo em nome da amizade e nunca para traficar influências. Embora todos saibamos que os políticos (como os burros), não se alimentam a pão-de-ló, são ciosos de outras ementas mais suculentas. Do que Vara não se livrou foi ser questionado por um popular que lhe disse na cara: “Infelizmente o nosso país está como está derivado à classe de políticos que nós temos. Ouviu? Vocês deveriam ter vergonha (…) Todos os nossos políticos deveriam ser julgados”.
Será mais um julgamento para durar largos meses e será quase certo, irá dar em águas de bacalhau, deixando ilesos os grandes peixes. O processo começou viciado com o apagão das escutas. Vá lá saber-se por quê. A sensação que fica destas situações é que, não fossem os intervenientes quem são, e as conversas fariam parte do processo que irá arrastar-se, se possível, até à prescrição, gastando imensos recursos a um país depauperado, mas a fazer parvamente de rico.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 17 de Novembro de 2011