quinta-feira, 10 de novembro de 2011

OTELO: 'NOVO 25 DE ABRIL SERIA MAIS FÁCIL DO QUE EM 1974'

Capitão de abril, Otelo Saraiva de Carvalho, considera que, na possibilidade de um novo golpe, os militares levariam a melhor, bastando "800 homens" para uma nova revolução.

Otelo Saraiva de Carvalho é contra manifestações de militares, mas defende que, se forem ultrapassados os limites, com perda de mais direitos, a resposta pode ser um golpe militar, mais fácil do que em 1974.

Em entrevista à Agência Lusa, a propósito da "manifestação da família militar", marcada para sábado, em Lisboa, o "capitão de abril" disse não concordar com esta forma de os militares expressarem a sua indignação.

"Não gosto de militares fardados a manifestarem-se na rua. Os militares têm um poder e uma força e não é em manifestações coletivas que devem pedir e exigir coisas", afirmou. Mas diz, no entanto, compreender as suas razões e considera que as mesmas podem conduzir a "um novo 25 de abril", num golpe militar que seria mais fácil que o de 1974.

"Os militares têm a tendência para estabelecer um determinado limite à atuação da classe política". Esse limite, considerou, foi ultrapassado em 1974 e culminou com a "revolução dos cravos".

Hoje, Portugal está "a atingir o limite", disse, corroborando o que há seis meses dissera à Lusa: "Se soubesse o que sei hoje não teria possivelmente feito o 25 de abril".

"Bastam 800 homens" para um golpe militar.
O coronel na reserva acredita que há condições para os militares tomarem o poder e vai mais longe: "bastam 800 homens". Em comparação com o golpe de 1974, do qual afirma ser um "orgulhoso protagonista", Otelo considera que um próximo seria até mais fácil, pois "há menos quartéis, logo menos hipóteses de existirem inimigos" da revolução.

Questionado sobre a real possibilidade dos militares tomarem o poder, como há 37 anos, Otelo responde perentório: "Não tenho dúvida nenhuma que sim. Os militares têm sempre essa capacidade, porque têm armas. É o último bastião do poder instituído", afirmou.

O estratega do golpe do 25 de abril faz uma análise crítica dos últimos 37 anos: "Se eu adivinhasse que o país ia gerar uma classe política igual à que está no poder, e que está a passar a certidão de óbito ao 25 de abril, eu não teria assumido a responsabilidade de dar essa alvorada de esperança ao povo".

"Estabelecemos com o povo português um compromisso muito forte que era o de criar condições para um acesso a nível cultural, social e económico de um povo que tinha vivido 48 anos debaixo de ditadura", acrescentou.

"Assumimos esse compromisso, não o cumprimos e não o estamos a cumprir porque entregámos o poder a uma classe política que, desde o 25 de abril, tem vindo a piorar", afirmou.

Classe política passa "certidão de óbito" à revolução.
Otelo considera mesmo que, à medida que o tempo corre, tem-se registado um enorme retrocesso. "Gozamos da liberdade de reunião, de manifestação e de expressão, mas começa a haver um caminho para trás", frisou.

Para Otelo Saraiva de Carvalho, a revolução "está agonizante" e há quem disso beneficie. "A classe política, sobretudo o que podemos abstratamente chamar de direita, está a retomar subtilmente tudo aquilo que eram as suas prerrogativas antes do 25 de abril e a passar a certidão de óbito à revolução".

"A minha mágoa é essa", adiantou, sem esconder o pessimismo em relação ao futuro: "Perdemos o compasso da história".

As associações socioprofissionais de militares têm marcada para sábado uma concentração nacional em protesto contra as "medidas duríssimas" apresentadas pelo Governo na proposta do Orçamento para 2012, nomeadamente a redução de remunerações e pensões, cortes nos subsídios de férias e de Natal e o aumento generalizado dos impostos.

Retirada daqui