quarta-feira, 16 de novembro de 2011

ANTÓNIO ALEIXO FALECEU HÁ 62 ANOS

Passam hoje 62 anos sobre a data da morte (16 de Novembro de 1949) de António Fernandes Aleixo, poeta popular português autor do poema que dá nome a este blogue.

Simples, humilde, iletrado, António Aleixo surpreende com a profundidade filosófica dos seus versos. É um caso singular na poesia portuguesa. Inspirava-o o quotidiano. Servia-se de uma feira da aldeia, uma ceia, um traço caricatural de gente conhecida e improvisava.


O tom era mordaz, mas autêntico. Aleixo transferia para a escrita o seu batalhão de emoções. O povo repetia - e saboreava - verso a verso. A sua obra poética é um manancial de sabedoria empírica. “Um grande poeta”, resume o escritor Rui Zink.

Aleixo brincava com as palavras. Tudo era motivo para um verso: amor, ódio, injustiça, vícios da sociedade, sorte, azar, mentira hipocrisia ele próprio. A vida, afinal. António Aleixo, poeta do povo, deixou ao mundo uma obra inverosímil, pela sensibilidade, simplicidade, perspicácia e argúcia únicas. Um homem simples e puro, que sempre se situou acima das fúteis manifestações da vida.

O poeta algarvio, nascido em 18 de Fevereiro de 1899, compôs e improvisou nas mais diversas situações do dia-a-dia. Numa festa da aldeia, num jantar, a vender bilhetes de lotaria. Riu-se das circunstâncias em que viveu e da própria aparência. “Sei que pareço um ladrão / Mas há muitos que eu conheço / que, sem parecer que o são, / são aquilo que eu pareço”, escreveu o poeta.

António Aleixo foi tecelão, guarda, servente de pedreiro, pastor, cantor popular em feiras e mercados, e vendedor de cautelas, a sua actividade a tempo inteiro. Ficou conhecido como o “poeta cauteleiro”. Quando emigrou para França, foi ainda servente de pedreiro. A escrita adocicou-lhe a vida.

Humilde mas de personalidade vincada, António Aleixo fez brotar, na 1.ª metade do século XX, uma poderosa corrente do cancioneiro popular português, à qual foi dada o seu nome. Uma corrente assinalada pelo artista plástico Tóssan e o professor de liceu Joaquim Magalhães, ambos admiradores convictos do poeta. “Aleixo é semianalfabeto e é graças a esse professor, quase anónimo, que hoje conhecemos os seus poemas. Passou a escrito os poemas de Aleixo”, lembra Rui Zink. Também ao professor o poeta dedicou uma quadra: “Não há nenhum milionário / que seja feliz como eu / Tenho como secretário / um professor do liceu.”

O poeta deixou obras como “O Auto do Curandeiro”, “O Auto da Vida e da Morte”, “O Auto do Ti Jaquim” (incompleta), “Inéditos” e “Este Livro Que Vos Deixo”, a mais conhecida. O primeiro livro, editado pelo Círculo Cultural do Algarve, nasceu em 1943 de uma compilação de José Rosa Madeira, protector dos seus escritos. Foi bem acolhido pela crítica: 1100 exemplares vendidos. A vida de Aleixo melhorou substancialmente, mas foi ensombrada pela morte de uma filha, vítima de tuberculose. Também o poeta morreu com esta doença, em 1949. O seu espólio encontra-se, aliás, fragmentado. Sob o espectro incontido do medo, muitos dos seus cadernos foram cremados como defesa contra o vírus infeccioso da doença que o vitimou.

Escreveu a sua autobiografia numa quadra: “Fui polícia, fui soldado, / Estive fora da nação; / Vendo jogo, guardei gado, / Só me falta ser ladrão.”

Os seus versos são caracterizados por um tom dorido, mordaz, irónico - uma crítica social feroz aos vícios e virtudes da sociedade. Em vez de se abandonar às lamentações da vida, escrevia sobre elas. Era a própria imagem da saúde e da força. Tinha um olhar feroz para tudo o que o rodeava e isso reflectia-se nos seus poemas. Homem simples e iletrado, António Aleixo ditou ao mundo um conceito muito pessoal da própria vida. Tem o nome em várias ruas do País, monumentos erigidos em sua honra e ainda foi criada a Fundação António Aleixo. Ganhou um lugar na história da literatura portuguesa. “É a prova de que o amor à palavra existe, mesmo que não seja no campo da escrita”, atesta Rui Zink.

Retirada daqui