terça-feira, 18 de outubro de 2011

O QUERIDO E SANTO ESTADO QUE OS CARREGUE

Que bom.

Mais uma greve geral.

Melhor, mais uma greve geral da função pública e afins.

É mesmo bom. Marcada pela CGTP e pela UGT.

Vai ser mesmo uma excitação no Estado e em alguma comunicação social. Pode fazer-se já o resumo da dita. Escolas, lojas do cidadão, repartições de Finanças, tribunais, hospitais, centros de saúde, conservatórias, câmaras municipais, juntas de freguesia, ministérios encerrados ou a meio gás.

Transportes públicos parados, aviões da TAP em terra, balanços exaltados das centrais sindicais sobre a adesão à greve, respostas do governo bastante minimalistas, acusações mútuas de manipulação de dados, directos das televisões à porta de escolas, empresas públicas, tribunais e muitas entrevistas com Carvalho da Silva, João Proença e companhia limitada.

Enfim, um dia em grande, cheio de emoções para os funcionários do Estado, os sindicalistas e os jornalistas. Um dia em grande e uma noite ocupadíssima com debates, comentários e mais entrevistas. Para os outros, a grande maioria, será mais um dia nas suas vidas.

Casa trabalho, trabalho casa, com a particularidade de se levantarem mais cedo por causa da paralisação dos transportes públicos e de chegarem mais tarde a casa por causa da greve. Para o governo de Passos Coelho, e particularmente para o ministro das Finanças, será um dia em grande. Se a adesão dos funcionários do Estado for muito elevada, consegue poupar uns largos milhões de euros em dias de trabalho que não paga aos grevistas. Para a economia, a que ainda produz riqueza e cria postos de trabalho, vai ser um dia normal, sem qualquer impacto negativo.

E pronto, eis mais uma greve geral, que, a exemplo de todas a outras, vale o que vale, isto é, não vale nada. Mas servirá com certeza para mais uns tantos argumentos contra o Orçamento do Estado e os cortes dos subsídios de Natal e de férias aos funcionários públicos. Há quem os considere injustos apenas porque não atingem os privados. Para essas queridas almas, condoídas com os empregados públicos, não é assim que se reforma o Estado. Melhor seria, dizem, despedir milhares e milhares de funcionários que estão a mais em todo o lado. Se fosse possível, claro. Mas, acrescentam rapidamente antes que seja tarde e alguém os leve a sério, isso não é de maneira nenhuma possível. Ia aumentar o desemprego e agravar a questão social.

Chegados a este beco sem saída, vem a tese querida dos amigos do monstro: seria muito mais justo aumentar o IRS ou aplicar um novo imposto a todos os trabalhadores públicos e privados. Pagavam os justos e os pecadores, não se punham portugueses contra portugueses, verdadeiro horror, e o Estado ficava exactamente como está, sorridente por extorquir mais uns valentes milhões ao mexilhão que lhe sustenta as gorduras e os vícios. Embrulhados nos seus próprios argumentos, fogem do labirinto com a ausência de estímulos à economia e a ineficácia do ministro que tem a pasta da dita.

Para estas cabecinhas pensadoras, que estiveram sempre de acordo com o modelo económico ruinoso dos últimos 30 anos, é o Estado o motor de tudo. Do emprego e da economia.

O Estado que os carregue.

Mas não à custa de quem trabalha e cria riqueza.

António Ribeiro Ferreira, aqui