1. Cada dia que passa, a Madeira compara-se a um campo de minhocas.
Cada cavadela, cada bichinha, protegida por uma confrangedora falta de fiscalização por parte do governo central e respectivos organismos.
Até dói. Jardim agiu na filosofia de quem vier que feche a porta ou como os políticos que se convenceram que as câmaras não abrem falência.
É verdade que a dívida da Madeira vai crescendo como pútrido cogumelo, mas também não deixará de ser verdade que outros buracos vão surgir em algumas câmaras do país, tal o despesismo, o show of, o exército de funcionários, as obras megalómanas, os elefantes brancos, amarelos e rosa, as acções de pura propaganda.
Ainda, hoje nesta crise imensa, sem fim à vista, muitos não mudam de vida, vão gastando à larga, esquecendo o essencial e ético. Muitos fazem gestão danosa dos dinheiros públicos, quando não em seu favor ou de amigos. Mas ninguém é responsabilizado, ninguém paga por isso, ninguém se senta no mocho. Pagamos nós.
2. O enriquecimento ilícito é problema que só agora foi à Assembleia da República e votada a sua criminalização por todos os partidos, menos o PS, ainda que Seguro tenha admitido publicamente o combate ao monstro. Em nome de uma suposta violação da presunção de inocência, a grande almofada dos políticos. Está declarada a guerra ao dinheiro sujo e aos esquemas que abundam. Será agora que vai ser travada a economia paralela que consegue, por subtis meandros, acumular dinheiro sujo e, após a expedita lavagem, reintroduzi-lo nos circuitos normais?
Resta saber se os mesmos que agora votaram a criminalização, não elaboram, como é costume, leis de rede tão larga que os tubarões conseguem escapar-se, mas o peixe miúdo, não. Vamos ver se este oportuno arreganho não vai dar em águas de bacalhau…Ou se é apenas para Troika ver.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 29 de Setembro de 2011