terça-feira, 13 de setembro de 2011

ERA UMA VEZ...

A TARTARUGA E A RAPOSA

A raposa estava sempre a troçar da tartaruga:
- És tão feia, tão ridícula, tão lenta, tão preguiçosa. Metes-me nojo.

A tartaruga aturava estas falas, sem lhes dar resposta. Andava à sua vida, vagarosa como sempre, embora lá por dentro o coração batucasse muito depressa, sentido e revoltado.
- Pareces uma pedra com pernas. Tens uma cabeça de lagarto. Ninguém seria capaz de imaginar um monstro como tu - dizia-lhe a raposa, passando por ela de raspão.

Tanta calúnia custa a suportar. A paciência também se esgota. Eu, se fosse à tartaruga, repontava.

Até parece que ela me ouviu, porque, um dia, depois de não sei quantas mais provocações da raposa, a tartaruga levantou a cabeça e do rés-do-chão falou assim para a impertinente:
- Eu lutar contigo não luto, mas desafio-te para uma corrida, já que te gabas de ser tão rápida. Aquela que primeiro chegar a casa ganha e acabou-se a conversa.

O macaco, que era um intrometido e tudo isto ouvira do alto de uma árvore, saltou para o meio das duas e ofereceu-se:
- Eu quero ser o juiz da corrida.

Aceite por ambas, o macaco anunciou:
- Vou dar o sinal de partida. Um... dois... e três!

Correu a raposa, de focinho afilado, em direcção à toca. Ia cá com uma mecha.

A tartaruga, por sua vez, limitou-se a encolher-se dentro da casca. Nem as patas deixou de fora.
- Ganhou a raposa - gritou o macaco.

Protestos da tartaruga, no cavo abobadado da carapaça:
- Mas eu já estou em casa. A minha casa, como a do caracol, anda sempre comigo.

Os bichos da floresta, que se tinham acercado para assistir à corrida, apoiaram a tartaruga. Pressionado pelo tumulto do público, o árbitro macaco também teve de reconhecer que ela é que tinha razão. E foi proclamada a vencedora.

A raposa, de emplumada cauda a arrastar a sua humilhação, ela que se considerava a mais inteligente da floresta, calou-se. Até ver...

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui