Sabemos que um mês de governação num país em descalabro financeiro ainda permite um certo estrado de graça, mas já se vêem no governo de Passos Coelho coisas que começam a não ter graça nenhuma.
Nada de muito grave, mas pode ser indício de alguma preocupação.
É verdade que na campanha e na oposição foi dizendo que era necessário emagrecer o Estado, tinham feito estudos, sabiam onde cortar as enxúndias vergonhosas. Passados pouco mais de trinta dias, até agora fez o mais fácil: emagrecer mais os bolsos dos contribuintes.
Ainda nada foi feito para racionalizar custos ou emagrecer a máquina do Estado, extintos institutos e fundações, empresas público-privadas. Dizem que o pacote vem no início de Outubro. Esperamos para ver onde e como.
Há mesmo sinais que lembram maus exemplos anteriores. Um deles: entre as 235 nomeações, que nos vão custar sete milhões, há a de mais quatro administradores, não executivos, para a Caixa Geral de Depósitos, cujos ordenados foram sonegados no site do governo que diz ser modelo sugerido pela Troika, formado essencialmente por um Conselho Administrativo e outro Executivo, que ficará mais em conta. Não é de acreditar que fique mais barato e dê melhores frutos, como já não houve no passado. Aqui faltou o diáfano tule da transparência, a inteira mostra da credibilidade.
Esta fica fragilizada quando o governo pede ao debilitado cidadão pesados sacrifícios e Passos Coelho nomeia 11 motoristas para seu serviço, não se sabe bem para quê, número que baixou para nove (Sócrates tinha bem mais, é verdade) e nada menos do que nove secretárias, etc…
Bem pode Passos Coelho viajar em classe económica, moralizar o uso da frota dos carros do Estado, que isso não chega para convencer a malta de que agora é que é. É preciso fechar rapidamente a torneira aos sorvedouros dos dinheiros públicos.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 4 de Agosto de 2011