João Silva é um nome vulgar mas esconde a vida invulgar de um dos mais prestigiados fotógrafos de guerra do mundo. A 23 de Outubro de 2010, João – português radicado há décadas na África do Sul – pisou uma mina quando acompanhava uma missão de rotina das tropas dos EUA no Afeganistão.
Ficou sem as duas pernas, mas sobreviveu. E sobreviveu nele, igualmente, a vontade de continuar a fazer o trabalho ao qual dedicou a vida. Agora, aprende a andar com próteses e já planeia as próximas reportagens de guerra.
Podemos chamar a isto teimosia, perseverança, loucura, coragem ou inconsciência, mas não podemos deixar de sentir, bem no fundo da nossa alma mais ou menos burguesa, um temeroso respeito.
Muito se escreveu já sobre um dos motivos menos nobres desta persistência: o vício da adrenalina. Comum nos praticantes de desportos perigosos, é partilhado pelos jornalistas que habitualmente trabalham em cenários de guerra. A par disto, existe um desejo de exibição e fama, uma vaidade de ter ido e voltado de cenários de destruição e morte.
Tudo isso é humano. Mas nada disso torna menos admirável a força do João Silva.
Francisco J. Gonçalves, aqui