quinta-feira, 4 de agosto de 2011

FAÇAM O QUE FIZEREM, NÃO SE ESQUEÇAM DA CLASSE MÉDIA

A Deco acaba de divulgar a impressionante soma de 62 compatriotas falidos a cada dia que passa.

Perante este novo número da crise haverá duas reacções extremas: uns cuidarão meticulosamente de atribuir as responsabilidades pela lastimável situação a cada um dos sucessivos governos da nação, outros tratarão de dispersar culpas pelo modo de vida generalizado da nossa classe média.

Por outras palavras, uns terão tendência para pendurar as dívidas de cada português no estilo de vida acima das respectivas posses; outros acharão que a dívida de cada um é apenas uma parte da famosa dívida soberana.

Havendo nestas duas teses extremas elementos que seguramente servirão a cada um dos endividados, o mais importante será responder a esta questão simples: serão os falidos e as falências obra de pessoas, empresas e governos tolos e irresponsáveis?

Creio que a dimensão da crise e a sua longa cauda - dívida soberana, bancária, empresarial, pessoal - respondem na sua dimensão numérica e humana à pergunta. Ou seja: são tantos os estados, os bancos, as empresas e as pessoas que faliram ou estão próximas disso que teríamos de concluir pela insanidade mental de meio mundo.

O problema é que esse meio mundo seria evidentemente o capitalista. E mais do que capitalista, o meio mundo que assenta nos pressupostos da democracia representativa.

O exercício de tentar responder a questões simples pode tornar-nos mais tolerantes e abertos às fragilidades da própria condição humana: talvez nenhum de nós tenha tomado todas as precauções no modo e forma de gastar dinheiro. E todos teremos facilitado em demasia no acesso ao crédito.

Dito isto, o mais relevante será encontrar as formas de voltar a engrenar a economia. E tentarmos tratar disso mesmo sem olhar obsessivamente a quem perdeu mais ou menos . Muito simplesmente porque entre ricos, pobres e remediados, afinal todos acabaremos por não ser demasiados se quisermos cumprir com os desígnios mínimos de vida em comum.

Porém, para que este esforço em comum seja possível é imperioso não deixar que a classe média caia definitivamente para zonas de subsistência e pobreza, como indica a tendência que se regista ainda sem qualquer sinal de abrandamento.

Em boa verdade, esta tendência de empobrecimento da classe média pode ser o "haraquíri" da economia, da qual se repete à exaustão a necessidade de exportar e se esquece que uma das condições inerentes a um mercado interno saudável também é a capacidade de gerar consumo - público e privado.

Manuel Tavares, aqui