Aos 43 anos, 19 dos quais de apito ao peito em provas oficiais, Fernando Idalécio Martins, conheceu ontem a sua “noite de glória”.
“Claro que senti-me muito bem, foi um momento único”, comentou à saída do estádio municipal de Aveiro, depois de um banho retemperador que não chegou para baixar a adrenalina de ter sido um dos protagonistas do Beira-Mar - Sporting que terminou sem golos nem ´casos´.
Afinal, tinha acabado de cumprir “um sonho” que já não contava nesta fase final da carreira, ver realizado. “Fui abordado e aceitei comparecer”, contou sem entrar em pormenores como apareceu para substituir a recusa de João Ferreira a que se associaram solidariamente outros árbitros das categorias principais.
A única nota de desagrado foi a ´lei da rolha´. “Os senhores da comissão de arbitragem da Liga” impediram-no, contra a sua vontade, de dar largas à satisfação no estádio e responder à curiosidade dos jornalistas.
Ainda para mais depois de um jogo que correu “de forma muito tranquila”, como disse nas curtas frases sem desrespeitar o compromisso de não falar de “incidências do jogo”.
O árbitro de Oliveira do Bairro, casado e pai de filhos, foi remetido pelo avançar da idade para o escalão B dos primeira categoria dos distritais da Associação de Futebol de Aveiro (AFA).
Tinha no currículo, até agora, como melhores referências jogos da terceira divisão nacional e quatro árbitro na divisão maior, durante a década de 90 do século passado. A moldura humana que encontrou em Aveiro, com mais de meia casa, não o inibiram. “Já tinha feito jogos com sete mil pessoas na terceira divisão”, lembrou o encarregado de secção numa empresa de sanitários cerâmicos.
O comportamento dos jogadores ontem foi “cinco estrelas”, disse, elogiando a postura “correctíssima” das duas equipas em campo. “Costumo dizer, e provei, que é mais fácil arbitrar na primeira divisão”, afirmou.
Beira-Mar e Sporting precaveram-se, a tempadamente, com muito segredo, apresentando, à hora do jogo, dois árbitros prontos a entrar em campo, mas vários outros, que não estariam nas cogitações, ter-se-ão disponibilizado na hora.
Um director do clube de Aveiro adiantava logo pelas 16:00 que estariam na bancada “várias alternativas”.
Mais tarde, aquando da chegada da comitiva do Sporting, o director-técnico, Eurico Gomes, deu nas vistas ao entrar no estádio acompanhado de desconhecidos, confirmando-se pouco depois que se tratavam de árbitros. O clube de Alvalade negou ter feito o convite.
Os dois árbitros entregaram as credenciais aos delegados da Liga de Clubes que acabaram por fazer a escolha.
Sérgio Cruz, de Lisboa, indicado pelo Sporting, foi preterido por não estar actualmente no activo.
Um árbitro que fez carreira na segunda categoria até ir para Angola, ao que tudo indica por motivos profissionais. No regresso a Portugal, pediu recentemente a refiliação mas ainda estará a aguardar por licença para voltar à actividade desportiva. O que o impediu de ser o eleito para o jogo de ontem.
Sérgio Cruz apareceu em 2005 referenciado no processo Apito Dourado, tendo chegado a ser ouvido pela Polícia Judiciária de Setúbal.
Os quatro elementos da equipa de arbitragem subiram ao relvado pela primeira vez logo com os onzes. Para além do principal, viram os seus nomes inscritos na ficha os assistentes Fábio Silva e Nunos Simões. Nuno Soares foi o quarto árbitro. Para mais tardar recordar.
Árbitros dos regionais querem valor reconhecido.
"Pequenas e normais" falhas à parte, Carlos Fernandes, do conselho técnico da arbitragem da AFA, deu nota positiva ao desempenho da arbitragem do Beira-Mar - Sporting. Ou não fosse Fernando Idalécio Martins “um dos grandes árbitros do quadro distrital”. Pela “experiência e qualidade” a que acrescenta, regularmente, “disponibilidade para dar formação aos mais novos”.
Está visto que o veterano árbitro não apareceu por acaso no estádio para ocupar a vaga de João Ferreira. O seu nome surgiu das conversas entre o Beira-Mar e os responsáveis da arbitragem distrital nas vésperas da partida com o Sporting. Acabou por ter como companhia um jovem assistente também dos regionais de Aveiro.
“Encarou o jogo como um divertimento, sem pressão fora do normal” confidenciou Carlos Fernandes, pedindo ao mundo do futebol para olhar para os árbitros dos escalões mais baixos “de forma mais positiva”.
O jogo da primeira divisão, garantiu um outro amigo, também árbitro, “acaba por ser mas fácil do que os distritais onde é só pontapé para a frente”.
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