sábado, 2 de julho de 2011

PRAGMATISMOS

As crianças são as criaturas mais pragmáticas do mundo; aliás, são quase todas implacavelmente pragmáticas.

Vivem de uma forma friamente pragmática. Ao contrário da esmagadora maioria dos adultos, quando as crianças definem um objectivo fazem tudo para o alcançar, e para o alcançar da forma mais simples, rápida e eficiente possível.

Imediatamente e sem complicações. As crianças não perdem tempo, nem têm paciência para enrolar ou para complicar o seu dia-a-dia.

Não há tempo para isso. Por isso choram, gritam, fazem birras, falam alto, correm muito, atiram coisas para o chão, desarrumam as casas, interrompem qualquer conversa, comem pastilhas umas atrás das outras e só param de se mexer, de pensar e de falar quando dormem. Só sossegam quando caem para o lado. Literalmente.

A vida das crianças é, no fundo, um encadeamento infernal de várias concretizações ou de tentativas mais ou menos frustradas de concretizar objectivos. Todos os dias são preenchidos por um somatório de actividades com principio meio e fim. Os dias são todos cheios, stressantes e muito atarefados. No reino infantil não se dorme em serviço, não se deixa para daqui a uma hora o que se pode fazer já, não se nomeiam comissões para escolher brinquedos ou começar brincadeiras.

Ali reina o pragmatismo em reacção à subtileza; o pragmatismo em oposição à lazeira. O mundo é rápido, eficiente e ninguém se pode sentar (as crianças não e sentam: estão deitadas ou correm). Até ao dia em que o pragmatismo dá lugar ao sofá, às confusões, às divagações, às discussões, e por fim às reuniões. E pronto, já somos grandes.

Inês Teotónio Pereira, aqui