Discreta até ao fim, Maria Judite de Carvalho foi uma das grandes vozes literárias do século XX português.
E se o seu nome é hoje, em larga medida, desconhecido das novas gerações de leitores tal deve-se mais a uma espécie de amnésia colectiva do que a uma excessiva datação dos livros que escreveu, os quais, embora firmemente ancorados no seu tempo, não deixam de procurar respostas inteiramente válidas para os nossos dias.
O questionamento da condição da mulher é um elemento omnipresente na sua obra, mas reduzi-la apenas à denúncia da opressão feminina acaba por ser injusto e redutor, já que, em última análise, é a agudeza da consciência humana que percorre estes escritos.
Publicado originalmente em 1966, Os armários vazios representa, a par de Tanta gente, Mariana, o cume da sua produção ficcional.
Nele, temos acesso às profundezas de um ser – no caso, uma mulher – cujas ligações ao mundo exterior se revelam cada vez mais ténues, próximas de um precipício que ameaça tudo e todos.
A solidão em que vive e a repetição dos hábitos num quotidiano agreste incutem à narrativa uma densidade que, longe de provocar um distanciamento, envolve o leitor numa jornada sentimental em que os afectos não excluem a perda, a desilusão e a dor.
(Sérgio Almeida)
OS ARMÁRIOS VAZIOS
Maria Judite de Carvalho
Ulisseia
14,95 euros
Retirada daqui