quinta-feira, 2 de junho de 2011

QUINTA-FEIRA DA ASCENSÃO: DIA DE FERIADO MUNICIPAL


Segundo o calendário litúrgico, na Quinta-Feira da Ascensão comemora-se a ascensão de Jesus Cristo ao Céu, encerrando um ciclo de quarenta dias após a Páscoa.

«Quarenta dias depois da Ressurreição, Jesus apareceu pela última vez aos seus discípulos, em Jerusalém, e levou-os ao Monte das Oliveiras. Depois de lhes ter renovado a promessa do Espírito Santo, ergueu as mãos ao céu e abençoou-os. Nesse instante começou a elevar-se no ar e não tardou que uma nuvem o escondesse dos olhos deles. Como estes continuaram a olhar o céu, apareceram-lhes dois anjos a anunciar que Jesus voltaria do mesmo modo que o viram subir. Então os discípulos deixaram o Monte das Oliveiras e regressaram a Jerusalém

Esta é a história.

Mas neste dia celebra-se igualmente o “Dia da Espiga” que localmente é comummente designado por “Quinta-Feira da Espiga”.

De facto, no concelho de Oliveira do Bairro, como em muitas localidades do centro e até do sul do país era tradição, de manhã cedo, as pessoas irem para os campos apanhar uma espiga e outras flores silvestres, fazendo ramos simbólicos da fecundidade da terra e da alegria de viver; estes ramos, em número de combinações variáveis conforme as localidades, penduravam-se dentro de casa e aí se conservavam durante um ano, até serem substituídos por outros no ano seguinte.

Crê-se que este costume tenha as suas raízes num antigo ritual cristão que consistia na bênção dos primeiros frutos, mas as suas características fazem-no adivinhar origens mais remotas, muito provavelmente em antigas tradições pagãs associadas às festas em honra da deusa Flora que ocorriam por esta altura.

É pois pacífico que nas tradicionais comemorações da Ascensão de Jesus Cristo, devam colher-se elementos florais para simbolizar a bênção das colheitas dos primeiros frutos, e que nalgumas regiões, as plantas colhidas não se resumem às espigas de trigo, compondo-se ramos que incluem malmequeres, papoilas, pé de alecrim, e ramos de oliveira e de videira, os quais devem ser guardados ao longo de um ano, até ao Dia de Espiga do ano seguinte, pendurados algures dentro de casa.

A simbologia associada a cada elemento a seguinte: Espiga – pão, Malmequer – ouro e prata, Papoila – amor e vida, Oliveira – azeite e paz, Videira – vinho e alegria e Alecrim – saúde e força.

Celebrar o Dia da Quinta-Feira da Ascensão deveria, por isso mesmo, constituir uma oportunidade para levar até ao grande público as manifestações tradicionais mais características do nosso concelho.

Assim, a manhã do Dia da Espiga deveria ser reservada a uma sessão solene, obviamente iniciada com o hastear de bandeiras, no decurso da qual o município, através da autarquia, tem de ser capaz de distinguir e reconhecer os seus melhores, agraciando-os enquanto exemplos de cidadania, de dedicação a uma causa (política, científica, cultural, desportiva ou qualquer outra), ou a uma área do conhecimento, dando assim importante incentivo a todos os que ainda não foram capazes de colocar o interesse colectivo acima do seu pequeno interesse individual ou corporativo; politicamente, poderá mesmo esta data ser eventualmente aproveitada pelo executivo municipal para inaugurar um equipamento ou infraestrutura de carácter social, contribuindo assim para abrilhantar as festividades.

Durante a tarde, seria realizado um cortejo etnográfico (que represente as actividades agrícola e artesanal de um meio que sempre teve ligações à ruralidade, e que em parte já se encontram em vias de extinção, desde as sementeiras, mondas, ceifas, debulhas, fabricação de pão, vindima e destilação e a apanha do arroz, durante o qual, os carros em desfile, vão oferecendo alguns dos produtos que transportam).

À noite um espectáculo com apresentação de autores e cantares populares (em local eventualmente ornamentado com uma exposição de maquinaria agrícola de antanho), e exibição de grupos folclóricos e de filarmónicas, que culmine com uma descarga de fogo de artifício.

Como forma de interacção entre a população e a organização da comemoração do Dia da Espiga, poderia mesmo ser instituída a realização de um concurso de quadras populares.

Só desta forma a Quinta-Feira da Ascensão, dia de Feriado Municipal de Oliveira do Bairro, poderá ambicionar ser um cartaz turístico de qualidade e um grande acontecimento regional, recebendo milhares de forasteiros que aqui poderão deslocar-se para apreciar o artesanato, a gastronomia, o folclore, a etnografia, a poesia e tudo o que há de mais genuíno no nosso concelho; só desta forma os munícipes do concelho terão o Dia da Espiga em Oliveira do Bairro.
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NOTA: o presente texto é uma adaptação de uma PROPOSTA DE PROGRAMA COMEMORATIVO DO DIA DE FERIADO MUNICIPAL por mim subscrita e apresentada na sessão da Assembleia Municipal de 29 de Junho de 2007, tendo sido rejeitada.