Quarenta por cento das crianças portuguesas vivem em situação de pobreza.
A falta de dinheiro justifica a falta de aquecimento nas casas, o alojamento sobrelotado ou uma vida vivida em áreas de crime, violência e vandalismo, mas não a inexistência de uma televisão ou de um telefone, segundo um estudo do ISEG.
Temos um País de pantanas que se refastela no sofá.
A pobreza e a miséria são antónimos – o dinheiro só a primeira resolve. Pode faltar espaço na sala, segurança na rua, proteínas no prato, tempo e educação, mas nunca um reality show ao jantar ou bolsos para um telemóvel. Os ‘putos’ portugueses estão assim: resultado dos nossos problemas, das nossas cidades, dos nossos bairros de cimento nem por isso mais sólidos.
Os estudos servem às notícias co-mo chapéus. Na Póvoa de Santa Iria, um pai soube pela televisão que a filha tinha sovado outra – acto filmado por telemóvel para o Facebook. Dentro de um minimercado, dias depois, esse mesmo pai apontou sem bondade "a miúda do vídeo" – a vítima.
Em Mem Martins, um x-acto serviu para uma jovem de 17 anos ferir 17 vezes uma outra de 14. Nenhum destes miúdos andava roto, sujo, era analfabeto ou subnutrido. São filhos do mal-estar das sociedades urbanas. "Não há céu de palavras que a cidade não cubra" – escreveu Ary dos Santos.
Fernanda Cachão, aqui