terça-feira, 28 de junho de 2011

ERA UMA VEZ...

O BOM GIGANTE
Era uma vez um gigante que não gostava de ser gigante.

- Chamo muito a atenção - queixava-se ele. - Para onde quer que vá, todos, de longe, apontam o dedo para mim "Lá vai o gigante!" E assustam-se. E abusam do meu nome e pessoa, metendo medo aos meninos: "Se não comes a sopa, chamo o gigante". E espalham disparates a meu respeito, dizendo que eu como gente, sou mau e outras calúnias que tais. Não aturo isto.

Pôs-se a andar de joelhos, a ver se não davam tanto por ele. Qual quê! Um gigante de joelhos, quer se queira quer não, é sempre um gigante, ainda que de joelhos.

Deixou de aparecer. Fechou-se no seu palácio de gigante e nunca mais pôs um pé fora de casa. Mas um gigante escondido, que de um momento para o outro pode aparecer, aterroriza ainda mais a vizinhança do que se andasse sempre na rua.
- Vou mudar de terra - decidiu o desgostado gigante.

Andou por vários reinos, sempre precedido pela sua fama.
- Vem aí o gigante - gritavam.

E todos fugiam.

Até que foi ter a uma terra de gigantes. De gigantões. Todos muito maiores do que ele.
- Aqui é que me convém ficar a viver - disse o gigante. - Ninguém vai reparar em mim.

Por acaso reparavam. Chamavam-no, nessa terra, de gigantões matulões, chamavam ao gigante desta história de "pitorro", "badameco", "homenzinho", "pigmeu"... Mas ele, que tinha muito bom feitio, não se importava.

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui