Já todos nos confrontámos, tanto na literatura como no cinema, com a representação de combatentes de guerra. São, geralmente, seres tocados pelo heroísmo que devotam a vida a uma causa, indiferentes ao sacrifício de vária ordem a que são sujeitos.
A semelhança entre estes semideuses e o herói de Homem em armas fica-se mesmo pela condição de combatentes. O que o escritor salvadorenho Horacio Castellanos Moya nos descreve neste breve romance é a saga de um homem frio e implacável que vai eliminando vidas (sejam idosos, crianças ou mães) sem que um só resquício de consciência o sobressalte.
Ele é Juan Alberto Garcia, um soldado tão duro, dotado de um porte físico impressionante, que é apelidado de Robocop pelos seus companheiros. Após anos a fio a combater no Batalhão Acahuapa das Forças Armadas de El Salvador, vê-se privado do seu ofício assassino, a única verdadeira vocação que possui, quando a guerra chega ao fim.
A desmobilização do contingente militar a que pertencia atira-o para o desemprego e, mais preocupante ainda, sem saber o que fazer à vida. Mas ao receber os despojos de guerra (duas espingardas, uma dúzia de carregadores, oito granadas defensivas, uma pistola defensiva e o equivalente a três meses de salário), Robocop não tarda a aperceber-se, porém, que a violência intrínseca da realidade social e política da América Central poderá vir a ser-lhe muito útil. E é isso que acontece quando Garcia começa a ser requisitado para perpetrar um conjunto de actividades ilícitas que envolvem tanto o narcotráfico ao roubo de automóveis.
Sem sequer questionar a natureza ética dos pedidos, o mercenário executa os pedidos que lhe vão chegando. Com uma capacidade de resistência assombrosa, escapa a sucessivas traições ou contragolpes e, embora esteja envolvido numa complexa rede do crime organizado, em que tanto os terroristas como os supostos agentes da lei têm as mãos sujas de sangue, nunca pára um segundo sequer para reflectir, pois tal não é o seu verdadeiro ofício.
(Sérgio Almeida)
HOMEM EM ARMAS
Horacio Castellanos Moya
Teorema
10,91 euros
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