1. Perante as minhas críticas, expressas aqui no Politicoesfera, à liderança de Passos Coelho e à sua estratégia política, recebi diversos mails a colocarem em causa a consistência argumentativa dos meus textos.
Refiro-me especialmente à minha análise sobre o debate entre Passos Coelho e José Sócrates, em que atribui a vitória a este último. Pois bem, tais críticas - que eu muito respeito - cometem um erro de raciocínio: confundem a apreciação da governação socrática e as consequências que daí os portugueses devem retirar, com o desempenho concreto dos dois líderes no debate televisivo.
Atendendo a três critérios (forma, conteúdo e objectivos prosseguidos e concretizados), mantenho que José Sócrates ganhou tangencialmente a Passos Coelho. Ora, a sondagem publicada aqui no site do EXPRESSO ontem, confirma: o PSD tem um problema de comunicação, não conseguindo passar a sua mensagem de forma clara e convincente para os portugueses. Terá sido o resultado da prestação menos conseguida de Passos Coelho no debate? Não. Claro que não! É apenas a confirmação de ume tendência que já se vinha a desenhar e que derivam de erros estratégicos e tácticos (quanto ao adjetivo para qualificar tais erros, deixo ao critério dos leitores - ingénuos, infantis, ridículos...ou estúpidos) do PSD.
2. Os leitores - todos, dos vários quadrantes, independentes ou desligados da política - têm de perceber uma realidade elementar: não escondo as minhas crenças ideológicas, nem a minha filiação partidária. Sou transparente. Todavia, quando analiso aqui no Expresso, não estou a fazer política - pelo contrário, tento ser o mais objectivo possível. Se achar que José Sócrates esteve bem - elogio-o. Se achar que José Sócrates é um mentiroso compulsivo (e, por acaso, até acho) - escrevo. Se considerar que o PSD não está bem e a sua liderança tem cometido erros, afirmo-o sem medos, nem calculismos. Goste-se ou não, só assim consigo conceber o meu papel aqui neste blogue diário. Sem influências, nem intromissões. Os leitores sabem, de antemão, que estas são as minhas opiniões - independentemente de concordarem ou discordarem com elas.
3.Dito isto, confesso-vos que Passos Coelho é muito, muito estranho. É um fenómeno difícil de perceber. Chegou à liderança do PSD, há mais de um ano, sabendo que o governo poderia cair a todo o momento, mas ainda não conseguiu encontrar o tom político mais adequado. Um exemplo flagrante: Passos Coelho partiu para o debate com José Sócrates, sabendo, de antemão (contando com a ajuda de Louçã em debate anterior), a grande fragilidade do líder socialista - a taxa social única. No entanto, deixou que José Sócrates dominasse o debate praticamente na íntegra, deixando para o final a questão mais delicada para Sócrates - se Passos tivesse utilizado esta arma logo no início do debate, José Sócrates seria esmagado! Mas não. Porque? Não se percebe!
4. Com a mesma liberdade de espírito que critico Passos pelos sucessivos erros que vai cometendo, passo a reconhecer que o dia de ontem foi-lhe particularmente feliz. Finalmente - aleluia! - o PSD consegue atacar o governo socialista de forma eficaz e concreta. Sem divagações complicadas e inúteis. Passos denunciou os lugarzinhos que o PS reserva para os seus boys na máquina do Estado, bem como a escandalosa desorçamentação do governo, escondendo os valores reais do défice. Isto é, Passos Coelho tocou nos dois pontos chaves que permitem descredibilizar a estratégia de vitimização do PS e que são a marca da governação de José Sócrates:
a) A colonização da máquina do Estado pelo amigalhaços dos socialistas, multiplicando-se lugares em direcções-gerais, empresas públicas, institutos públicos que, em vez de prosseguirem o interesse público, prosseguem o interesse privado de alguns;
b) O regabofe orçamental - uma verdadeira brincadeira! - a que temos assistido, sobretudo, nos últimos 3 anos. Autores: José Sócrates (principal) e Teixeira dos Santos (cúmplice). Medidas que são apresentadas apenas para fins eleitorais - ter mais uns votozinhos! - , dando-se sinais errados aos portugueses, défices escondidos, verbas cujo destino não se conhece muito bem (ou não se conhecem mesmo!)...Enfim, o Governo Sócrates não foi - não é - sério na gestão financeira. Fim da história: o país está à beira da bancarrota, dependendo da ajuda externa. Saliente-se que Teixeira dos Santos, que pode ser muito competente profissionalmente, revelou-se um ministro das finanças fraco, que se deixou manipular pelos interesses políticos.
Concluindo, terça-feira foi um dia feliz para Passos Coelho. Começa a acertar no discurso e nos pontos de ataque ao PS mais eficazes. Resta saber se ontem se escreveu uma nova fase na estratégia de Passos Coelho - ou foi apenas um dia feliz. Aqui estaremos para ver e comentar.
João Lemos Esteves, aqui