domingo, 8 de maio de 2011

A NOVA TROIKA

O desarranjo das nossas contas é o exemplo maior do modo leviano e suicida como nos temos governado e deixado governar. Somos um país que não se recomenda e um povo sem emenda.

A troika formada pelos especialistas do FMI, do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia terminou o seu trabalho em tempo recorde - no espaço de um mês, avaliaram o estado (lastimável) das contas públicas, ouviram políticos, patrões, banqueiros e sindicatos e propuseram um plano de resgate a Portugal.

Temos de concordar: é obra! Eles fizeram em cerca de 30 dias o que nós não fizemos (melhor: não quisemos fazer) nas últimas décadas.

Na conferência de imprensa de apresentação formal do pacote de austeridade, ficou claro que, para quem vê o país com a frieza que o rigor impõe, o desarranjo das nossas contas é o exemplo maior do modo sociologicamente leviano e financeiramente suicida como nos temos governado e deixado governar. Numa palavra, Portugal transformou-se num país que não se recomenda e num povo sem emenda.

O pacote de austeridade é o que é - dadas as circunstâncias, bom para uns, mau para outros, indiferente para os muitos que apenas tomarão devida nota do aperto quando o final do mês parecer cada vez mais distante. A verdade é uma e insuperável: os homens da troika deixaram-nos um programa que ajudará o país a erguer-se e a escapar do abismo, desde que (sublinho: desde que) assumamos de vez os nossos deveres. O primeiro exercício da assumpção desses deveres está marcado para 5 de Junho, dia em que escolheremos o próximo Governo.

Sim, é certo que, vença quem vencer, o rumo dos próximos anos (talvez mesmo da próxima década) está já definido no pacote de austeridade - e seria estouvado e criminoso não o seguirmos. Apesar disso, não é indiferente escolher o(s) partido(s) a que queremos entregar o fardo. Porventura mais do que nunca desde que vivemos em democracia, ir às urnas é um acto de fulcral relevância. O tempo é de comprometimento com o que tem que ser - e não de ausência e crítica ao que foi.

A pergunta é: as hipóteses de escolha que os partidos nos oferecem são estimulantes? A resposta é: são o que são. O candidato do PS resiste, incrivelmente, a tudo e a todos; o do PSD, incrivelmente, não descola; o do PP, inteligentemente, já descolou; o do PCP, pacientemente, sobrevive; o do BE, naturalmente, faz por sobreviver. As sondagens mostram que o jogo se decidirá entre uma nova troika, a que com pompa chamamos o "arco da governação": PS, PSD e PP.

Se a intenção assim se mantiver até à hora de depositarmos o voto na urna, o mais certo é que venhamos a ter um governo de coligação. Parece coisa simples, mas não é. Os protagonistas da lusa troika não se estimam por aí além - e o cimento político de que o país necessita para seguir em frente sem mais sobressaltos não sobrevive a contínuas fissuras. Por isso se impõe o singelo pedido: entendam-se. Até porque, de três em três meses, a outra troika estará cá a avaliar se ganhámos juízo...

Paulo Ferreira, aqui