sábado, 21 de maio de 2011

É PENA

Como traduzir major reduction? Tendo em conta as posições do primeiro-ministro, não é fácil.

Evidentemente, os culpados são sempre os jornalistas: falam disto e daquilo sem cuidarem do essencial e deixando de parte as pérolas reflexivas que, todos os dias, brotam dos vários candidatos às próximas legislativas.

É a Taxa Social Única, a aritmética eleitoral, o voto útil e, agora, qual cereja em cima do bolo, as Novas Oportunidades, que, em boa hora, se transformaram no principal tema nacional. Escusado será dizer que não foram os jornalistas que inventaram esta fenomenal agenda.

Quem viu, como eu vi, os debates entre os líderes partidários sabe obviamente quem a estabeleceu. Como sabe também o que ficou fora dela.

Ao contrário de Jerónimo de Sousa e de Francisco Louçã, que, de Marte, onde se encontram, não se têm cansado de atacar o acordo firmado com a União Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu, os partidos que com ele se comprometeram decidiram fazer tábua rasa sobre o que acordaram. O memorando assinado pelo Governo e apoiado pelo PSD e o CDS fala de uma redução substancial (major reduction, no original)? O engº Sócrates diz que não, que isso é um termo vago e um assunto a estudar até ao próximo Orçamento de Estado, onde obrigatoriamente esta medida tem de constar – provavelmente é esta simples expressão inglesa que tem impedido a tradução do documento para português. Como traduzir major reduction?

Tendo em conta as posições do primeiro-ministro, convenhamos que não é fácil. O dr. Passos Coelho, por sua vez, avançou com uma descida de quatro por cento (vou deixar de lado os oito por cento do dr. Catroga) que, pelo que se percebe, será diluída ao longo da legislatura ao ponto de se confundir com a solução imaginária proposta pelo primeiro-ministro. Já o dr. Portas, num assomo de prudência, garantiu que tinha manifestado a sua reserva em relação a esta medida, embora não se tenha dado ao trabalho de explicar as implicações práticas dessa sua reserva. Podia dar outros exemplos, como a diminuição das câmaras municipais ou a taxa sobre a electricidade que terá de ser aplicada em Janeiro de 2012.

Mas o que mais custa a perceber, nesta campanha dominada pelo acessório, é que ninguém tenha a coragem de explicar como vai aplicar um acordo que, ao contrário do que foi apregoado pelo primeiro-ministro, é um acordo exigente que vai contra os interesses de todas as corporações que, até agora, têm dominado o País. O Presidente da República, ainda esta semana, voltou a insistir neste ponto. Aparentemente ninguém o ouve. É pena.

Constança Cunha e Sá, aqui