Neste país já nada me espanta e tudo me espanta. Estamos em crise profunda? Estamos. Precisamos de trabalhar mais? Precisamos. Então, por que é que o país fechou ao almoço de quinta-feira e só reabre na terça?
O Governo deu tolerância de ponto aos funcionários públicos, alegando que faz parte da tradição. Com os senhores da Troika por cá, a ver se nos salvam da bancarrota, não podia haver melhor ideia. Colocámos a placa: "Voltamos já!". Assim ficam a saber que connosco não fazem farinha. Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque. Eu proponho, aliás, que o dia em que vão chegar os 80 mil milhões seja decretado feriado nacional. Festa em dia útil não é festa.
O país é sempre assim. Está tudo feito para gozar as pontes e fazer vários meses de férias. Em Setembro, as minhas filhas fazem dois anos e vão para a creche. Já fomos informados de que devemos pagar a propina nos doze meses do ano, apesar da creche fechar 15 dias na Páscoa, 15 dias no Natal e todo o mês de Agosto mais metade de Setembro.
Eu já decidi. Para o ano vou gozar todas as pontes e meter dois meses e meio de férias. Quando o meu patrão me procurar vai encontrar na porta do gabinete a placa "Volto já" e se me ligar para o telemóvel vai ouvir a seguinte mensagem: "Ligou para Paulo Baldaia, estou de férias, queira voltar a ligar dentro de dois meses e meio".
Bem sei que o patrão ficará tentado a despedir-me com justa causa, mas eu vou a tribunal alegar que sou português.
Paulo Baldaia, aqui