Uma despedida suspeita, um silêncio anacrónico, putativos candidatos a líder, a femme terrible e o regresso do exilado. Eles e ela marcaram o congresso.
Jaime Gama. O melhor discurso na despedida
Se houvesse um prémio para o melhor discurso não seria difícil a decisão. Jaime Gama, na hora da despedida, distinguiu-se com uma intervenção sóbria e realista, ao contrário de muitos dos dirigentes destacados, que se limitaram à mensagem eleitoral. Gama avisou que o PS “vence não quando se entrincheira” e “ataca”, mas sim quando “propõe”. O que não é pouco para um partido que passou o congresso a “malhar” no PSD e não apresentou uma única ideia nova para o futuro. Numa declaração com várias leituras, Gama disse ainda que “não há pessoas insubstituíveis no PS”.
Carlos César. Dedo na ferida: "PS não está isento de erros"
É um dos putativos candidatos à liderança do PS, quando Sócrates sair. Entre César e António Costa sairá um candidato contra António José Seguro. Um tentará sempre forçar o outro a avançar. César marcou posição ao alertar para o risco de os socialistas não assumirem os erros que cometeram. O PS “não pode nem deve pensar que esteve isento de erros. Quem não reconhece os seus erros não pode estabelecer compromissos perante os portugueses”, disse. As palavras de César fizeram eco num pavilhão que raramente ouviu críticas ao governo.
Ferro Rodrigues. A surpresa de Sócrates para ganhar Lisboa
Foi a surpresa do congresso. O homem que abandonou a política activa, depois de se ver envolvido no processo Casa Pia, volta para encabeçar a lista da capital e dar o seu apoio a Sócrates, que lhe sucedeu na liderança. Sete anos depois, Ferro diz voltar “emocionado” mas não deixou de se dirigir directamente a Sócrates: “Falo-te com a autoridade de quem te criticou nas poucas intervenções públicas que fiz. Achei que te fazia falta a humildade de quem pedia sacrifícios.” O discurso não foi brilhante, mas ficou a marca de esquerda deixada pelo homem que criou o rendimento mínimo garantido.
António José Seguro. O único dos notáveis que não discursou
Foi dos poucos notáveis que dispensaram falar durante o congresso e não assistiu a uma boa parte dos trabalhos. Mais que com as palavras, foi com os actos que quis marcar posição e foi visível a preocupação em contactar com os militantes socialistas. Há muitos anos que se diz que ainda não chegou a sua hora. Talvez por isso tenha optado mais uma vez pela discrição. Em vez de mostrar a sua alternativa, Seguro voltou a dizer que esta hora é “de unidade” no partido e apelou novamente a um “compromisso” depois das eleições para salvar Portugal da crise.
Ana Gomes. "Nem tudo foram rosas" no partido da rosa
Era previsível que um dos discursos mais críticos da liderança de Sócrates fosse feito por Ana Gomes, e assim foi. A eurodeputada, que falou a seguir ao jantar, no sábado, apelou aos socialistas que reconhecessem que “nem tudo foram rosas na governação”. Ana Gomes, bastante solicitada pela comunicação social, disse estar com José Sócrates, mas rejeitou um PS “unanimista, como o PC chinês”. Como também era de prever, queixou-se dos banqueiros. “Em 15 dias sofremos a indignidade de ver os nossos banqueiros encostar os revólveres à cabeça do governo.”
Francisco Assis. Não chegou a hora de quem "não escolhe a hora"
Está no grupo dos socialistas apontados como candidatos ao lugar ocupado por José Sócrates, mas o secretário-geral do PS pediu a palavra – antes do discurso do até aqui líder parlamentar – para o anunciar como cabeça-de-lista pelo Porto – e Assis garantiu-lhe que estará sempre com ele. “Esta é a hora de quem não escolhe a hora”, disse o homem que o país conheceu através do episódio da agressão em Felgueiras. As palavras alinhadas com Sócrates fizeram do discurso de Assis um dos mais aplaudidos dos três dias. Falta saber quando será a hora de Francisco Assis.
Luís Claro e Liliana Valente, aqui