quarta-feira, 13 de abril de 2011

O INESPERADO FASCÍNIO DE NOBRE PELO PARLAMENTO

Nem três meses passaram, e eis a súbita mudança. O homem que se apresentava ao eleitorado como o rosto da cidadania, a fazer lembrar Prometeu, liberto e portador do fogo, acima dos jogos de cintura que agrilhoam os partidos políticos: abdica. Renega um legado que parecia límpido.

Acenaram-lhe um lugar na cadeira do presidente da Assembleia da República e ele, o homem que só desistia se lhe desfechassem um tiro na cabeça, meteu as convicções no bolso mais fundo. Fez-se político.

Fernando Nobre não explicou as motivações que o levam a encabeçar, ainda como independente, a lista de candidatos a deputado do PSD por Lisboa. Deveria fazê-lo. Os seus seguidores, os que nele votaram, sobretudo esses, nas últimas eleições Presidenciais, merecem uma palavra. Muitos sentir-se-ão enganados. Ou desencantados, que é bem pior. A ética política atirada ao chão, numa altura em que o estado de credibilidade da democracia surge tão ténue.

Na última vez que falou publicamente, Fernando Nobre garantia: os seus votos nas Presidencias de 20 de Janeiro jamais abririam caminham a novo partido político. Aqui terá cumprido a palavra. De facto não capitalizou os votos nesse fim, troca-os por um cargo político. Resta saber se a escolha recaiu no PSD por convicção ou, simplesmente, porque Passos Coelho cobriu a oferta socialista.

Surpreendente esta percepção dos partidos políticos sobre o eleitorado. Arregimentar o candidato presidencial que baseou a campanha na cidadania enquanto negação dos partidos políticos, acreditam eles, trará dividendos nas urnas. Os comentários, indignados, na página de Fernando Nobre no Facebook provam o contrário. Eram tão elucidativos que a página entretanto foi extinta.

A corrida dos dois maiores partidos a contratar Nobre para as suas equipas é mais um episódio elucidativo do estado da nossa pobre política caseira. E neste festim de encerramento de banquete, com certos políticos acusando-se mutuamente de mentir, os senhores do FMI aterram em Lisboa - e vão de táxi do aeroporto para o hotel.

Retirada daqui