segunda-feira, 11 de abril de 2011

O DESPREZO PELA POLÍTICA

Se a linguagem da política se rege hoje apenas por critérios de conveniência e oportunidade, sem procurar qualquer relação com o sentido ou com a verdade (mesmo expressões como "falar verdade ao país" são profundamente mentirosas), os congressos partidários constituem só encenações histriónicas para o exterior, sobretudo para as TV, e perderam há muito a preocupação de exibir algum simulacro de debate.

Os recentes congressos do PS e do PSD Madeira exemplificam exuberantemente uma coisa e outra, a corrupção da linguagem política que, amplificada e banalizada pelos meios de comunicação de massa, contamina depois a linguagem comum, e a natureza meramente teatral dos congressos, tornados instâncias de glorificação unanimista das lideranças, quaisquer que sejam (recorde-se que até a moção de Santana Lopes foi aprovada no Congresso de Barcelos sem votos contra) e onde aos congressistas cabe o papel dos espectadores dos "directos" televisivos: bater palmas.

Que Jardim chame publicamente Sócrates de "criminoso" não significa nada; amanhã, se as circunstâncias o recomendarem, abraçá-lo-á e elogiá-lo-á. E também isso não significará coisa alguma.

Os cidadãos (pelo menos os poucos que ainda votam) reconhecem aos políticos uma espécie de "capitis diminutio" moral que leva a que tolerem na corporação política o que considerariam moralmente inaceitável na sociedade civil. Essa é também uma forma de desprezo.

Manuel António Pina, aqui