Há dias, na Rádio, ouvi o presidente da Associação de Municípios, Fernando Ruas, alertar, pela enésima vez, o Governo para a situação cada vez mais crítica resultante dos cortes do apoio financeiro do Estado, os que vêm sendo praticados e os mais ainda que serão de esperar depois de o FMI nos comprar o orgulho nacional com uma mão-cheia de euros.
Ora convém acentuar que as câmaras não servem apenas para reparar estradas ou substituir lâmpadas de candeeiros públicos; esquece-se por vezes, quando não se ignora mesmo, que a sua acção social chega a ser notável. Basta recordar o seu apoio a refeições escolares ou às Actividades de Enriquecimento Curricular.
Basta lembrar que, sobretudo nos municípios do interior, as câmaras são os maiores empregadores (a de Melgaço, por exemplo, é a maior empregadora do concelho!). De facto, as autarquias têm (ou tinham, pois mais de metade delas estão em situação de rotura financeira) um papel preponderante na manutenção do Estado social; mas, se lhes cortam as verbas, esse papel perde cor...
Do mesmo se queixam as instituições privadas de solidariedade social, também elas à beira da rotura financeira. As instituições ligadas, de uma maneira ou de outra, à Igreja, com destaque para as misericórdias, também vivem com a corda na garganta. Mas mantêm escolas e hospitais, centros de apoio e... Sabia que, por exemplo, em Vila Flor a Misericórdia é a entidade que mais emprego oferece no concelho?
Certo, há que cortar na despesa. Porém, o Governo, seja lá qual for o que vier por aí, não pode menosprezar o papel que as referidas entidades desempenham na contenção da miséria e do desemprego. Sob risco de vir ele, Governo, a "herdar" a chusma de esfomeados e desempregados que até agora têm contado sobretudo com as câmaras e as IPSS.
Sérgio Andrade, aqui