O primeiro-ministro lamentou esta terça-feira à noite na TVI a "campanha do PSD de que só haverá entendimento se PS tiver outro líder". José Sócrates recusou ainda problemas com Teixeira dos Santos.
Numa entrevista a Judite Sousa, na TVI, José Sócrates disse concordar e compreender os apelos feitos pelo actual e antigos presidentes da República para que exista um Governo de coligação. "Vêm de pessoas bem intencionadas e preocupadas com o nosso país", comentou.
Questionado se seria possível entender-se com Passos Coelho, Sócrates afirmou: "Acho possível e desejável entendimento entre PS e PSD e outros partidos". O primeiro-ministro defendeu que esse seria um "sinal de grandeza".
"A minha disponibilidade é de poder contribuir para isso", afirmou acerca da possibilidade de um acordo. "Estou a dizer isso desde Setembro de 2009, quando ganhei as eleições", realçou, salientando ainda que "é muito importante que um político ponha de lado as questões pessoais".
José Sócrates criticou a "campanha" levada a cabo pelo partido de Pedro Passos Coelho. "PSD tem feito campanha de que só haverá entendimento se PS tiver outro líder. Não é um bom contributo para um bom entendimento", disse. "O PSD tem o direito de vetar as lideranças do PS?", questionou.
O primeiro-ministro recusou ainda a ideia de União Nacional. "Ninguém falou em União Nacional. O Dr. Passos Coelho parece não ter entendido o que foi dito. O que se falou foi de unidade, encontrar espaço de entendimento e consenso".
Questionado acerca do comentário de José Lello, que chamou "foleiro" ao presidente da República Cavaco Silva, Sócrates afirmou que "é preciso ter respeito pelo outro e consideração recíproca". E, voltando à tal campanha do PSD, disse: "Esta crise política existe porque muitos não aceitaram o resultado das eleições de Setembro de 2009. Esta atitude não tem nada de democrático. É uma atitude de mau gosto".
O primeiro-ministro reforçou que espera cumprir o calendário que prevê que haja um programa de ajuda externa até meados de Maio. "Estamos a trabalhar intensamente com a 'troika' para assegurar financiamento da nossa economia e para que Portugal mantenha um modelo social", disse, repetindo que bastaria que o PEC4 tivesse sido aprovado para que não fosse necessário recorrer a ajuda externa.
José Sócrates recusou qualquer desentendimento com o ministro das Finanças Teixeira dos Santos relativamente à necessidade de recorrer à ajuda. "Foi uma decisão minha, tomada em consciência", garantiu, dizendo que a entrevista do ministro ao "Jornal de Negócios" não precipitou nada. "Eu estava decidido a fazer essa declaração, antes de ele dar essa entrevista. O ministro Jorge Lacão já tinha aberto a porta a isso", lembrou, admitindo que o fez "contrariado", pois "preferia que não tivéssemos chegado a isso".
"Não foi um dia feliz para mim. Toda a gente sabe isso, não foi, não", comentou.
Ainda sobre Teixeira dos santos, o primeiro-ministro garantiu que não o deixou cair. "Nunca deixo cair ministros. Não faço isso. Não ter sido convidado para listas de deputados não tem nada a ver com isso", garantiu, explicando que o facto de Teixeira dos santos não constar da lista de deputados do PS "não tem nenhum significado político".
Sócrates lembrou que Teixeira dos Santos está a conduzir as negociações com a "troika". "É um trabalho que não invejo", comentou, dizendo ainda que o ministro é seu "amigo" e do partido socialista. "Contarei com ele para o resto da minha vida."
José Sócrates não especificou que tipo de sacrifícios serão exigidos aos portugueses no âmbito do programa de ajuda externa. "Esta negociação tem de ser conduzida com descrição para defender a dignidade do Estado e das instituições", justificou. Por isso, criticou o PSD, que se queixa de falta de esclarecimentos e que hoje mesmo tornou pública uma carta a dar conta disso mesmo. "Nem tenho palavras para classificar essas palavras. Servem para fazer guerrilha", avaliou Sócrates, que sugeriu uma pesquisa na Internet para o partido encontrar respostas e que desmentiu todas as informações que têm sido avançadas na comunicação social sobre medidas a aplicar.
A finalizar, Sócrates disse que não fará campanha com a família. "Isso não é o meu género. Tentei sempre preservar a intimidade da minha família e faço-o por respeito aos meus filhos", disse, garantindo não estar a "fazer juízos de moral sobre outros".
Passos Coelho deixou esta semana no Facebook uma mensagem de Páscoa, em que surgiu acompanhado da mulher.
Sofia Fonseca, aqui