Permitam-me que comece por vos saudar a todos e que vos deseje, para vós e para as vossas famílias, uma Feliz Quadra Pascal.
Em Abril de 1974, deu-se um golpe militar e nos meses e anos que se seguiram deu-se uma revolução. Uma revolução que alterou profundamente a estrutura social, cultural e económica do nosso país, e que alicerçou o Portugal que somos hoje.
Um Portugal democrático, um Portugal moderno, um Portugal virado para a Europa, mas também um Portugal asfixiado por uma profunda crise económica.
Passados 37 anos do Abril de 74 foram-se os dias do encantamento, foram-se os dias da ilusão, e vivemos hoje confrontados com a realidade presente e com um futuro incerto.
Durante estas quase quatro décadas, as condições de vida da nossa população melhoraram de forma muito significativa. Só a título de exemplo, olhemos para a mortalidade infantil, em 1970 morriam 53 crianças em cada 1000, antes de atingirem 1 ano de idade, hoje morrem em média menos de 4 em cada 1000. Isto deve-se a diversos factores, que vão desde a alimentação, à higiene ao vestuário, ao conforto das casas, à melhoria dos cuidados de saúde, ao acompanhamento pré e pós-natal, enfim a um conjunto de padrões de qualidade de vida que nos aproximam em muito dos países mais desenvolvidos.
No entanto, nem todas as nossas expectativas, nem todas as nossas ambições foram alcançadas.
A Europa trouxe-nos o desejo de termos acesso a tudo aquilo que décadas de isolamento tinham negado às gerações passadas. Alavancados por fundos comunitários, dotamos o país de uma série de infra-estruturas: modernas auto-estradas, modernas escolas, modernos centros culturais, modernas piscinas, modernos estádios de futebol. Tudo um sem número de coisas que tem possibilitado aos nossos políticos criar a ilusão que no Portugal moderno tudo se faz, tudo acontece de um dia para o outro.
Mas fica muito caro manter um Portugal moderno, como penosamente nos vamos apercebendo. E fica muito caro manter um Portugal moderno, nomeadamente quando a nossa economia não é tão moderna assim, quando importamos muito e exportamos pouco.
E hoje, parece que o sonho se quer transformar em pesadelo.
Mas não nos deixemos iludir, apenas precisamos de acordar, e de perceber que há valores, que há verdades que tem que ter lugar no Portugal moderno. Valores, que os nossos avós, quando o Portugal era menos moderno, conheciam bem.
Valores como o do trabalho. Temos que dizer aos nossos jovens, temos que dizer aos nossos filhos que não basta apenas ir à escola, não basta apenas tirar um canudo, é preciso aprender, é preciso aprender a teoria, é preciso aprender à prática, é preciso aprender a saber fazer, e isso dá trabalho, exige esforço.
Temos que dizer aos nossos políticos que queremos mais verdade e menos obra, que queremos mais honestidade, mais simplicidade e menos engenharia financeira. A engenharia que queremos é aquela que permite construir pontes, aquela que permite construir máquinas, aquela que cria riqueza, que cria valor e que nos irá permitir manter e aprofundar o nosso Portugal moderno.
Por isso não temamos nada. Mas não nos deixemos iludir em palavras vãs. Nomeadamente, num período de intensa pré-campanha eleitoral em que parece que tudo vale para chegar ao poder, mas em que simultaneamente é exigido aos políticos da nação um elevado sentido de responsabilidade para que ambições de curto prazo não comprometam o país no longo prazo. Saibamos que o futuro está nas nossas mãos, mas tal como no passado, as dificuldades da vida não são para ser rodeadas, mas para ser ultrapassadas, para ser vencidas, e isso só se faz com trabalho, com verdade, com justiça, mas também com solidariedade, com respeito e amor ao próximo. No fundo com os valores de um Portugal fraterno que a geração de Abril nos deixou e que nós, com o nosso trabalho, a nossa inteligência, a nossa perseverança, a nossa paixão, o nosso empenho iremos aprofundar.
Viva Abril,
Viva Portugal,
Armando Nolasco Pinto
(Membro da Bancada do PS na AM de OB)