quinta-feira, 3 de março de 2011

MITOMANIAS E VENTILADORES*

São várias as vezes em que nas reuniões do executivo e nas sessões da assembleia municipal de Oliveira do Bairro, a oposição suscita a rectificação de incorrecções flagrantes ou de evidentes violações da lei, contidas em propostas da câmara municipal, com vista à sua supressão ou eliminação.

Invariavelmente, e desde que a iminência da retirada da proposta não ocorra (como já ocorreu com a retirada da proposta de Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo para o Ensino Superior, tal a quantidade de erros, gralhas e omissões apontadas pela oposição), a resposta do executivo no poder é sempre no sentido de que 'as propostas são para votar como são apresentadas, e quem achar que estão incorrectas que vote contra'!

O que daqui resulta é que ao executivo no poder pouco interessa se a oposição tem ou não tem a razão ou a lei do seu lado; muito mais importante do que isso é ignorar qualquer sugestão provinda da oposição, ou pelo menos não deixar transparecer que ‘há dedo’ desta na supressão de lacunas ou gralhas contidas nas propostas do executivo, como já aconteceu por algumas vezes sem que tal facto esteja reflectido no texto das actas.

No entanto, quando a situação é inversa, o executivo no poder não perde nenhuma oportunidade para alfinetar situações relativas à ‘era diluviana de 1990 a 2005’ que antecedeu a do ‘paraíso iniciado em finais de 2005’. E a sanha persecutória é tanta, que por vezes os tiros são disparados mesmo sem o cuidado de escolher o alvo.

Foi o que aconteceu na última sessão da assembleia municipal quando o presidente da câmara, ao abordar a questão da requalificação das escolas de ensino básico do concelho, anunciou de forma quase efusiva e em relação a uma destas que ‘na secção de obras da câmara municipal não existe qualquer processo’.

Quer se tenha referido ao estabelecimento de ensino de Oliveira do Bairro, quer ao de Oiã, o presidente da câmara esqueceu-se que ambos já estavam construídos em 1990; e assim, ao fazer uma afirmação deste jaez, o atingido não foi seu antecessor, mas sim quem presidia ao executivo que na altura exercia a gestão política dos interesses do concelho.

E se essa afirmação tivesse como referência a Escola Básica Integrada de Oiã, cuja conversão foi da responsabilidade do seu antecessor, essa seria uma crítica directa à oposição de então, a quem na altura competia a actividade de acompanhar, fiscalizar e críticar a orientação e a actividade política do então executivo; e não há memória que nessa altura a então oposição tenha suscitado essa ou qualquer outra irregularidade, ou efectuado qualquer reparo sobre a situação.

É 'dos livros' que em cada mandato de exercício de poder, seja central seja local, há sempre quem faça tudo para se destacar, ainda que para isso tenha necessidade de demonstrar atitudes mitómanas acerca de si mesmo, aparentando uma firmeza própria de quem se sente iluminado e predestinado para papéis redentores e de impulso de transformação social.

E o obscurantismo desta postura torna-se mais claro quando a ousadia avança para a dissecação do sempre fascinante balanço dos mandatos dos antecessores, denegrindo por denegrir, como quem atira lama para as pás de um potente ventilador em funcionamento, que a salpica para cima de tudo e de todos.

É também destes passos (de falta de educação política e de cultura democrática), e não são poucos, que tem sido feita a história recente do poder executivo do município de Oliveira do Bairro, passos que não sendo tão mediáticos ou tão sonantes, são tão relevantes como os grandes bem mais visíveis e que, ainda que assim não fosse, se fazem sempre grandes nas consequências e no valor acrescentado que representam.

Podem ser só pequenos passos… podem ser pouco visíveis, mas fazem toda a diferença’.

*versão integral do artigo publicado na pág. 2 da edição de hoje do JORNAL DA BAIRRADA.