Passos Coelho já começou a traçar os cenários para depois do Dia D. O líder do PSD promete uma "campanha limpa" e incluir o PS nas decisões de um futuro governo. Luís Amado é bem aceite como interlocutor.
Amanhã, o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, viaja para Bruxelas, para a reunião do Partido Popular Europeu (PPE), com o argumentário ensaiado.
Passos terá de saber responder à pergunta: e se das eleições antecipadas sair um governo minoritário que não consiga, como disse ao i o ex-ministro das Finanças Luís Campos e Cunha, aprovar nem os novos botões da polícia, quanto mais negociar um Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) e fazer passar um Orçamento do Estado no final do ano? Este resultado, para além das previsíveis consequências financeiras, faria com que o Presidente da República ficasse sob fogo cruzado por não ter agido preventivamente para evitar a crise política eminente (ver pág. 18).
O líder do PSD tem tentado sossegar as consciências. Primeiro com um comunicado escrito em inglês e dirigido aos mercados, depois assegurando que o futuro governo será "abrangente" e terá várias forças políticas. "Nós estamos disponíveis depois das eleições para incluir outros partidos e até personalidades que não tenham proveniência partidária. Precisamos de ter uma visão abrangente", afirmou Pedro Passos Coelho. O uso do plural faz adivinhar uma relação a três entre PSD, CDS-PP e PS, com data marcada para depois da ida às urnas. A solução tinha sido defendida por Cavaco Silva no discurso da tomada de posse e nos últimos dias multiplicaram-se os apoiantes desta arquitectura governativa. "Era bom que o governo que execute o PEC possa ser um governo de três partidos: PS/PSD ou PSD/PS, conforme a escolha dos portugueses, e CDS", defendeu o conselheiro de Estado Marcelo Rebelo de Sousa.
Passos Coelho parece disponível para seguir por esse caminho: "Não é para o PSD que nós queremos governar, é para o país, e discutiremos o que iremos fazer com os outros partidos e também com o Partido Socialista que, com certeza, aprenderá alguma coisa com a experiência que findou."
O que significa este apelo à aprendizagem do PS? "Sócrates é de facto parte do problema e não da solução", disse ao i fonte da direcção laranja, "nunca um entendimento pós-eleitoral poderá incluir o primeiro-ministro". Já o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, é considerado por Passos Coelho um bom interlocutor, sabe o i, para encetar uma nova fase de relações entre os dois principais partidos. Porém, "não cabe ao PSD escolher o líder do Partido Socialista", sustenta a mesma fonte.
Até às eleições, o Presidente dos sociais-democratas promete uma "campanha limpa", diferente da campanha eleitoral para as presidenciais, que foi "suja e pessoal".
Quem chama o FMI? Pedro Passos Coelho quer que seja o primeiro-ministro a negociar com Bruxelas as regras que vão permitir o recurso ao Fundo de Estabilização Europeia, de que faz parte o FMI, mesmo admitindo que possa vencer as próximas eleições. Ontem os juros da dívida no mercado secundário a cinco anos ultrapassaram os 8%, o que torna o recurso cada vez mais premente para que não haja um colapso financeiro do país.
Esta posição do líder do PSD tem com objectivo não só demarcar-se da situação a que Portugal chegou em termos económico-financeiros, mas também pressionar o actual governo a tornar públicas e transparentes as contas nacionais. Dentro do PSD há a convicção generalizada de que o actual PEC só foi entregue antes do prazo obrigatório (Abril) para garantir a ajuda externa.
Passos Coelho recusa a pressão cada vez maior para que haja um acordo alargado que negoceie os termos em que o Fundo e o FMI vão entrar em Portugal. O líder do PSD quer ganhar argumentos para a campanha eleitoral que se desenha no horizonte, demarcando-se do PS no que diz respeito às medidas de austeridade que já receberam luz verde da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. Certo é, porém, que a ajuda só chega a Portugal perante um pedido de ajuda e não é certo que José Sócrates queira assinar a carta.
Filipa Martins com Margarida Bon de Sousa, aqui